“Não há cura sem cuidar de alguém”

SAÚDE Mélissa Fulgêncio tem 25 anos. Francisco Coutinho Fernandes tem 23 anos. São enfermeiros do concelho de Almeirim que trabalham em hospitais em tempos de pandemia. Os dois jovens contaram um pouco da sua jornada na medicina e as dificuldades do que é ser enfermeiro.

Ser enfermeiro foi algo que sempre quis como profissão ou foi algo que apareceu algum tempo depois?
Mélissa Fulgêncio (M.F): Eu sempre gostei muito da área da saúde. No
12ºano, eu sabia que queria seguir a área da saúde, mas queria algo que me desse desafios todos os dias e que não fosse muito monótono. Claro que existe sempre uma monotonia, mas queria algo que fosse trabalhar e não saber o que é que naquele dia poderia acontecer e que me desafiasse.
E eu acho que ser enfermeiro é isso. Ser enfermeiro é desafiarmo-nos todos os dias porque quando vamos trabalhar, não sabemos como é que o turno vai correr, o que é que vai acontecer e, naquela área, aprendemos
sempre todos os dias, a base é sempre a mesma. Acaba sempre por haver um pouco de monotonia, mas todos os dias aprendemos algo de novo. E então segui enfermagem por causa disso. Foi um bocadinho a medo, mas surpreendi-me pela positiva porque hoje em dia não me via a fazer outra coisa.
Francisco Coutinho Fernandes (F.C.F): Ser enfermeiro até ao 12º segundo ano nunca me tinha passado pela cabeça! Sinceramente eu nunca soube bem o que queria fazer da vida, sabia apenas que queria trabalhar com algo que envolvesse o corpo humano e trabalhar diretamente com pessoas. Nisto comecei a investigar profissões que tocassem nestes dois pontos.
Foi aí que surgiu a Enfermagem, mas também sempre fui muito ligado ao desporto e também ponderei ciências do desporto, que também cheguei a ir fazer os testes físicos à FMH. No final meti os dois cursos numa balança e Enfermagem realmente era uma área em que conseguiria emprego facilmente e poderia começar a minha vida melhor.

Como foi a sua jornada na Universidade para ser enfermeiro?
M.F: Eu gostei bastante do curso e foram quatro anos. A Escola Superior de
Saúde de Santarém tem uma coisa para mim que é muito boa que é: vamos para contexto clínico, ou seja, fazemos estágio logo a partir do primeiro ano e acho que isso nos mostra se é mesmo aquilo que queremos fazer ou não. Porque na altura, o meu primeiro estágio foi numa Unidade de Cuidados Continuados, onde nós vimos realmente a realidade das coisas: o que é uma pessoa dependente, idosos, pessoas entubadas, traqueostomizadas, com necessidade de oxigénio, pessoas com várias úlceras de pressão (que são aquelas feridas que se desenvolvem em pessoas dependentes, acamadas).
Isto tudo trás aqui um choque emocional e inicial, porque estamos a
falar de pessoas de 17/18 anos que vão para estes contextos. No meu caso, eu tinha 17 anos quando entrei para a faculdade, porque só faço anos em Setembro.
F.C.F: No meu caso, a minha jornada penso que terá sido um pouco diferente do normal. Cheguei no primeiro dia para tirar um curso em que não acreditava a 100% que seria o que iria gostar e chegando lá e começando a falar com os meus colegas e quase todos me diziam que enfermagem era o sonho de vida deles. Não vou mentir, pensei algumas vezes “Será que estou no sítio certo?”.
Mas depois começaram as aulas e começaram os estágios, ao ver como os meus professores e colegas falavam da profissão começou a crescer um amor por ela e comecei me mesmo a identificar porque sempre gostei de ajudar os outros, mas nunca tinha pensado fazer disso vida. É viciante ajudar os outros, logo nos primeiros estágios percebemos isso, e foi assim que me apaixonei por esta profissão e percebi que estava no sítio certo. No entanto é um curso que exige muito de nós, tanto fisicamente pelos esforços que temos de fazer para estudar e exigência mental para termos de aguentar a pressão de quem um ano antes não tinha responsabilidades e do nada temos vidas nas mãos. Não é fácil,
levamos muitas vezes o “trabalho” para casa, e vamos a pensar nos que estão mal e naqueles que não conseguimos ajudar. Mas também tem a parte boa de levar o trabalho para casa, é que sentimos que fazemos a diferença pela positiva e isso dá-nos sempre uma força extra para as frequências e próximos estágios.

“O enfermeiro tem de estar presente, o enfermeiro tem de tocar, o enfermeiro tem de comunicar, o enfermeiro tem de apoiar”

Mélissa Fulgêncio

Como foram os primeiros dias da profissão?
F.C.F: Os primeiros dias da profissão foram os dias em que estive mais nervoso na minha vida.
Eu sou da geração dos “Licenciados COVID”, ou seja, os estudantes que acabaram comigo o curso, assim como eu, tinham direito a quatro meses de estágio de integração à vida profissional, em que começaríamos a ganhar autonomia e a organizar melhor a nossa forma de trabalhar e criarmos realmente a nossa identidade enquanto profissional. O que aconteceu foi que esse estágio foi cancelado devido à pandemia e substituído por trabalhos online.
Sejamos sinceros, não se pratica enfermagem pela internet, pratica-se estando ao pé das pessoas. Imagine, eu que durante todo o meu percurso escolar só tinha tido à minha responsabilidade uma pessoa atribuída por turno, cheguei e do nada passei de uma em estágio para sete. Foi a noite e o dia e foi muita pressão porque do nada as responsabilidades já são nossas, ainda por cima com uma pandemia, sentindo-nos mal preparados porque ficou uma parte do curso por fazer. Não foi fácil, mas talvez uma coisa que muita gente não sabe é que Enfermagem é feita em equipa, e felizmente no serviço em que fiquei no Hospital de Santarém, não me faltou apoio da minha equipa que me ajudou e ainda ajuda sempre que preciso.

Quais eram as suas expetativas quando decidiu que queria ser enfermeiro?
F.C.F: As expetativas eram que iria ter uma carreira, com dinheiro para viver uma vida humilde e o meu trabalho seria dar uns medicamentos, uns banhos e pouco mais.
As minhas expetativas não poderiam estar mais erradas, primeiro porque a carreira de Enfermagem atualmente é uma miragem e porque eu não fazia a mínima ideia do que realmente era Enfermagem. Foi ao descobrir que realmente me apaixonei pela profissão.
M.F: Sou sincera. Quando fui para o curso, não tinha grandes expetativas. O meu objetivo era aquilo que estou a concretizar agora que era ser enfermeira especialista em saúde materna e obstetrícia e era consegui-lo não é? E para isso, quando terminámos a licenciatura, temos de trabalhar primeiro dois anos e só depois é que podemos ingressar na especialidade e no mestrado.
Então, a minha expetativa era conseguir aquilo que estou a fazer agora. Primeiro, trabalhei dois anos na medicina no Hospital de Santarém, onde gostei muito de lá estar, fiz grandes amigos, mas o objetivo era mesmo este: trabalhar na área que eu gosto e é uma área difícil de ingressar, portanto à primeira oportunidade que tive agarrei-a. Fui para Vila Franca de Xira, apesar de ser mais longe, mas a minha expetativa era essa. Era conseguir onde estou neste momento.

Francisco Coutinho Fernandes trabalha no Hospital de Santarém e é um
dos enfermeiros no combate à Covid-19

Uma das coisas que não se esperava era a Covid-19. Quais as dificuldades de ser enfermeiro em tempos de pandemia?
M.F: Eu acho que esta pandemia vem-nos mostrar o que é realmente importante. Dar valor às pequenas coisas e veio mostrar aos enfermeiros que nós realmente somos o pilar disto tudo. O enfermeiro é o pilar do Sistema Nacional de Saúde, ponto final. Sem enfermeiros não há saúde, ponto final. E isto eu digo com toda a certeza.
Nós, enfermeiros, as dificuldades que sentimos é sermos poucos para tanto. E tudo o que implica saúde implica enfermagem. Enfermagem cuida, a medicina cura, certo? Mas não há cura sem cuidar de alguém.
Portanto, o enfermeiro está implícito sempre. O enfermeiro está presente 24
horas por dia, o enfermeiro cuida da pessoa do início ao fim da vida, as parteiras dão vida, mas no último suspiro também é um enfermeiro que lá está. E acho que isso nos mostra a importância que nós temos nos hospitais.
Eu falo por mim. Eu trabalho numa maternidade, cuido de mulheres positivas e elas necessitam de outro tipo de cuidados que outro doente num covidário não precisa, porque elas não têm aqueles sintomas exacerbados. Mas uma mulher que acabou de parir, e o termo parir utiliza-se, precisa de apoio, precisa de aprender a cuidar daquele bebé, precisa de aprender a amamentar, precisa de aprender a dar o banho, precisa de aprender a cuidar do seu filho. E nós enfermeiros somos quem estamos presentes.
O enfermeiro tem de estar presente, o enfermeiro tem de tocar, o enfermeiro tem de comunicar, o enfermeiro tem de apoiar. Num serviço de medicina, nós prestamos cuidados de higiene, nós realizamos curativos às pessoas, nós estamos presentes quando as pessoas descompensam, quando
estão descompensadas da parte respiratória (pausa). Temos de estar presentes, temos de tocar. E nesta pandemia, o que é preconizado é: um metro de distância, estar afastado, não haver aglomerados… Mas os enfermeiros não podem trabalhar sem estar presente, ou seja, sem estar perto.
E isto é uma dificuldade; é protegermo-nos a nós. Uma das dificuldades é realmente ter de me proteger a mim como enfermeira. Não é? Porque eu tenho de estar presente.
Não é por uma pessoa estar positiva que eu não estou ao pé dela ou que eu fujo dela. Nós não podemos fugir. E acho que isso é importante salientar aqui. Temos os equipamentos de proteção individual que perdemos muito tempo a vestir e a despir, temos de poupar os equipamentos. Sentimos que estamos numa sauna (risos). Ficamos com suor da cabeça aos pés. E uma das dificuldades é também gerir o tempo: gerir o tempo para vestir, gerir o tempo para despir, gerir o tempo que estamos com o doente, certo?
Num covidário, não têm só um doente positivo, há muitos e há que gerir o tempo para todos. E isso também é outra dificuldade que sentimos. Sentimos também dificuldade em filtrar, em vir para casa e se calhar deixar tudo o que ficou para trás no hospital. Pessoalmente, eu não consigo. Às vezes sinto a necessidade de falar e eu tenho um namorado que me apoia imenso e que lhe agradeço muito, porque às vezes venho mais em baixo e sinto necessidade de falar porque os enfermeiros também são pessoas.
Eu ainda não sou mãe, mas somos filhos, somos pais, somos netos, somos
irmãos… Nesta pandemia, andamos desaparecidos porque evitamos estar com os nossos para os proteger para cuidar dos outros.
Eu deixo os meus para cuidar dos outros. Eu protejo os meus não
estando com eles. Neste momento, eu não vejo os meus avós há dois meses, porque eu sei o que pode acontecer se eu estiver com eles, porque vejo muita gente a falecer com a idade deles. Na maternidade, inicialmente nesta pandemia, houve uma coisa a mim que me perturbava imenso: no início, antes do nosso serviço ter condições físicas para receber uma mulher com Covid-19 positiva, as mães assim que pariam, eram separadas do recém-nascido ao fim de poucos minutos. Assim, o recém-nascido ia para o serviço de Neonatologia, um serviço excecional, no Hospital de Vila Franca de Xira, e as mães iam para o serviço de Infecciologia, portanto, de 48 a 72 horas até terem alta.
Portanto, a mulher nem ia para o serviço, nem ia para a maternidade; ia para o Serviço de Infecciologia, onde estavam todos os doentes de Covid-19, claro que num quarto isolado, e depois via o seu bebé através de um tablet. E uma das enfermeiras da maternidade, quando as colegas de Infecciologia por não ser a área delas, tinham algumas dúvidas, eu no meu caso nunca fui, mas às vezes iam colegas lá ajudar a prestar cuidados a essa mãe: a fazer ensinos sobre os cuidados às mamas, sobre a amamentação, ou seja, sobre muitas outras coisa. E acho que isso é também outra dificuldade é saber gerir as situações.
Portanto, os enfermeiros, neste momento, têm de se reinventar, têm de adaptar novas estratégias, têm de estar preparados para tudo. Eu espero que esta pandemia passe.
Eu tenho muito orgulho em ser enfermeira. Acho que os enfermeiros conseguem superar, a maior parte das vezes, as dificuldades impostas, especialmente nesta pandemia. O que nós sentimos é que queremos chegar a toda a gente e já não é possível. Portanto, há escolhas e há prioridade. O
enfermeiro, a toda a hora, prioriza o que é mais importante fazer agora e o que é que podemos deixar para depois. E eu acho que é isso. Eu acho que muitas das nossas dificuldades também passam por aí: por priorizar cuidados, gerir o nosso tempo, o facto de termos de estar perto das pessoas de quem cuidamos não as podemos abandonar. E, por outro lado, protegermo-nos e depois é gerir tudo isto em casa.
F.C.F: Penso que para essa pergunta há duas vertentes a abordar, uma delas o Francisco pessoa e noutra o Francisco Enfermeiro.
O Francisco pessoa, tem muito medo de estar infetado e trazer isso para casa, ou para ao pé dos amigos, ou quando vai a qualquer lado na rua. É um peso que sinto sempre em cima, nunca estou sempre 100% descansado. Para o Francisco enfermeiro, é a incapacidade de fazer aquilo que mais gosto, que é estar com as pessoas. Normalmente gosto de andar a circular de quarto em quarto, falar com pouco com os doentes que me estão atribuídos nesse dia para os conhecer e saber de que melhor forma os posso ajudar e tornar os cuidados adequados à pessoa, durante a pandemia acaba por ser um pouco impessoal e odeio isso. Os EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) são caros e não se podem gastar à vontade como quereríamos, para além de que é sempre um perigo quando os tiramos que pode ser o momento em que nos infetamos e também porque é muito desgastante fisicamente usa-los. O que infelizmente leva-nos a não conseguir estar tanto tempo com os doentes como quereríamos, mas o que fazemos é aproveitar ao máximo o tempo que lá temos com eles, sair e desequipar com cuidado, limpar a cara, beber um bocado de água e comer qualquer coisa rápida para nos voltarmos a equipar e voltarmos para perto deles.

Já tomou a vacina contra a Covid-19?
F.C.F: Já, a primeira dose a dia 7 de janeiro e a segunda a dia 28 de janeiro. Na primeira dose tive apenas insónias, na segunda fiquei de cama no dia seguinte e no terceiro dia ainda estava com bastante mal-estar geral, mas novamente, lavamos a cara e vamos ajudar quem precisa mais que nós. Espero que a comunicação Social também possa levar em breve para virem para dentro de um Hospital, e mostrar aos portugueses o real trabalho e importância de um enfermeiro, pode ser que comecemos a ter mais reconhecimento pelas pessoas e pelos nossos políticos por perceberem que realmente segurou as pontas nesta pandemia!
M.F: Ainda não fui vacinada, mas acho que está mesmo para breve, mas muitas das minhas colegas já foram.

“Custou-me muito ver um pai que queria fazer tudo pelos filhos e uma doença não deixou”

Francisco Coutinho Fernandes

Apesar de ser enfermeiro há pouco tempo, tem alguma história marcante positiva?
M.F: Tenho muitas histórias positivas sobre ser enfermeira, porque apesar de ser há pouco tempo, também já vivenciei algumas coisas. Quando trabalhei na medicina, quando cuidamos de pessoas em fim de vida, há momentos que vivenciamos com elas que para mim é positivo apesar de ser um doente em fim de vida.
O facto de nos agarrarem na mão e agradecer, o facto de dar um copo de água com uma palhinha a alguém e a pessoa agradecer, o facto de
dizerem: “Ainda bem que está aqui comigo”. Há muita coisa que trago positivo de ser enfermeira todos os dias e na maternidade é muito gratificante ver o nascimento, o início da vida. Tudo para mim é gratificante; as mães a agradecerem por estarmos ali presentes.
Foi o que eu já disse anteriormente, estamos presentes do início ao fim da vida e acho que isso para mim é muito gratificante.
F.C.F: Tenho claro, as histórias são as pessoas, cada pessoa tem a sua história e cada dia levamos um pouco dessa história connosco. Uma que me marcou mesmo foi uma senhora relativamente nova, nos seus cinquentas, estive com ela quase duas semanas, em que celebrei o meu aniversário com ela porque estava a trabalhar e poucos dias depois ela celebrou o dela comigo e o que me marcou nisto foi apenas uma pergunta simples, “Oh Enfermeiro está cá no dia em que tenho alta? Queria-me muito despedir de você e agradecer!”, simbolizou muito para mim porque realmente sentimos que fizemos a diferença a ajudar aquela pessoa a chegar da doença com que entrou à saúde necessária para ir para casa ter com os seus.

E tem alguma história marcante negativa?
M.F: Quando trabalhei na medicina, muitas das vezes perdia doentes e estava ao pé deles até eles falecerem e depois prestava cuidados ao corpo. Eu acho que perder um doente é sempre negativo, ainda para mais, ver o sofrimento muitas vezes das pessoas e os últimos suspiros, chamado de “fase agónica”, quando eles estão prestes a falecer.
Claro que, ao fim de um tempo, já tentamos levar isso de uma forma natural porque a morte faz parte da vida, mas não deixa de ser negativo. Quando eu ou um colega perdemos um doente, claro que ficamos perturbados e ficamos tristes, porque vivenciar o sofrimento de alguém não é fácil. Claro que fazemos o melhor que podemos por aquela pessoa
estando presentes até ao último suspiro, mas não deixa de ser complicado para nós, os profissionais de saúde.
F.C.F: Tenho, demasiadas talvez, o COVID destruiu realmente muitas famílias. Mas a que me marcou mais não foi por culpa do COVID, foi por causa do Cancro.
Um senhor novo nos seus quarentas anos, em que víamos o estado dele todos os dias a piorar e que nos era impossível fazer nada para melhorar a doença, a única coisa que podíamos fazer era ajudar a dar conforto ao senhor até chegar a sua hora. Mas o que me marcou mesmo foi que ele tinha começado um negócio antes de descobrir a doença, e queria deixar esse negócio para os filhos. Esse senhor trabalhou por computador nesse
negócio até à sua última força pelos filhos.
Custou-me muito ver um pai que queria fazer tudo pelos filhos e uma doença não deixou.

Mélissa Fulgêncio trabalha em Obstetrícia e Ginecologia no Hospital de Vila Franca de Xira em tempos de pandemia da Covid-19

Continua a circular pela internet uma petição criada por alunos de Enfermagem para os incluir no grupo de prioritário de vacinação. Enquanto ex-aluna de uma Escola de Enfermagem, qual a sua opinião sobre o assunto?
M.F:
Eu concordo com a petição porque os alunos de quarto ano continuam a fazer estágios, de acordo com o conhecimento que tenho atenção, espero não estar errada. Os alunos do último ano continuam a fazer estágios e então estão nos serviços tal como eu estou. Portanto, correm o mesmo risco que eu. Por isso, acho que sim.
F.C.F: A minha opinião vale o que vale, mas é vergonhoso qualquer escola sujeitar os seus estudantes a COVID sabendo que são pessoas com pouco experiência e que o risco de se infetarem acaba por ser maior, e pior que isso é que se realmente se infetarem anda têm consequências curriculares e se algo acontecer em termos de saúde a escola não se responsabiliza. Por isso a minha opinião era não os meter em sítios em que isso possa acontecer e caso não haja outra alternativa, sim, vaciná-los, estão muito mais tempo com as pessoas do que muita gente que já levou a vacina.

Portugal ultrapassou os dez mil casos diários e foi considerado o pior país da Europa devido ao número de mortes de Covid-19. Na sua opinião enquanto enfermeiro, acredita que isto foi uma espécie de “chamada de atenção” que alertou os portugueses, principalmente, os almeirinenses, que também tiveram um número alto de casos?
M.F: Sim, concordo plenamente que isto foi um “abre olhos”.
Nós aqui costumamos dizer que estamos no “Cantinho do Céu” e que aqui nunca chega nada, mas não é nada disso! Isto bate à porta de toda a gente e uma prova disso foram os números de novos casos. Portanto, eu acho que o confinamento já está a fazer algum efeito e espero que sejamos mais conscientes daqui para a frente.
F.C.F: Para mim não foi uma chamada de atenção foi uma luta de interesses
entre política e saúde pública, e que devido ao Natal e Passagem de ano a política de agradar às pessoas fez com que a nossa saúde pública chegasse a esse estado.
Almeirim foi um reflexo do que se passou no país inteiro. Para mim estas
decisões de levantar medidas, correr mal, voltar a implementar não abre os olhos a ninguém, muito pelo contrário, desacredita a doença porque muita gente pensa que se podem levantar numas vezes pode-se levantar em todas. Depois os resultados sentem-se, no hospital e bem à frente dos meus olhos em que a realidade durante esses dias foi quase de que se uma pessoa tivesse de ficar internado era melhor ter COVID porque se não tivesse não sei se haveria camas, pois grande parte dos serviços de internamento foram transformados em serviços COVID.

Que mensagem pretende transmitir à população do concelho de Almeirim em relação à pandemia da Covid-19?
M.F:
Eu como enfermeira, claro que quero dizer que se protejam e aos vossos como avós e os pais. Que tenham consciência e acho que todos juntos vamos conseguir superar isto. Se cada um fizer a sua parte, acredito que vá ficar tudo bem ou quase tudo bem. Acho que se tivermos mais consciência e respeito uns pelos outros que tudo ficará melhor.
F.C.F: Confiança, fomos um concelho exemplar por muito tempo, e conseguimos voltar a ser, o ganha-pão de muita gente em Almeirim é devido à gastronomia, mas quanto mais corretos formos agora, mas depressa podemos ir comer uma Sopa da Pedra, por enquanto comam-na em casa com as vossas famílias.

Mariana Cortez