Caros diocesanos
Como refere a mensagem da Conferência Episcopal, “o andamento do Advento traz-nos um Deus que vem para o meio de nós e da nossa anemia e pandemia, e diz: “Bom-Dia”, e suplicando ordena: “Cuida de mim”. É terrível termos de assumir que, se não cuidamos bem dos pobres e necessitados, também não cuidamos bem de Deus! Mas é agora o tempo favorável! É agora o dia da salvação!”
Importa caminhar para a celebração do Natal com esta conversão interior que permite acolher o “Bom dia” de Deus em tantas oportunidades. Este ano não se conseguirá manter alguns ritmos de tradição familiar, mas não significa que não possamos escutar, agir e celebrar o Natal nas mais diversas situações em que nos encontremos. Reunidos em família ou em serviço num Lar de pessoas idosas, num Hospital, numa Instituição com pessoas com deficiência, tudo são oportunidades de tornar presente a bondade de Deus. Para reforçar esta possibilidade, tomemos alguns valores que os Evangelhos da Infância sugerem:
O Natal é um estímulo de fé e confiança na Providência. Maria e José escutaram Deus e acreditaram. Cumprem os seus deveres cívicos. Sobem da Galileia até Belém: um caminho difícil, uma mulher grávida e o desconforto de não acolhimento. “Deitaram o menino numa manjedoura porque não havia lugar para eles na hospedaria” (Lc 2,7). Experimentaram, como tantos no mundo, que a solução não está acessível. Todavia, revelaram capacidade de adaptação e confiança na Providência, aceitando com humildade o apoio que lhes apareceu. No meio da pobreza, não faltou o cuidado e a ternura. Não faltou o essencial.
O Natal pede uma nova consideração. Num ambiente de grande afirmação de poder imperial e religioso, Deus provoca os ambiciosos de grandezas e nasce na sobriedade de uma família pobre e desinstalada. A simplicidade e a pobreza haviam de ser a nova ‘marca’ de Deus que se humaniza para se tornar próximo, acessível e também carente, identificando-se com todos aqueles que, pela sua pequenez ou necessidade, clamam: “cuida de mim”.
Muitos profissionais de saúde e de outros serviços, em tempo de pandemia, superaram as suas forças e enfrentaram o medo para cuidarem de pessoas que necessitavam da sua dedicação. Também Jesus dedicou muita atenção aos doentes e assegurou: “Tudo o que fizerdes ao mais pequeno dos meus irmãos, é a Mim que o fazeis” (Mt 25,40).
O Natal é luz de esperança. “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz” (Mt 4,16). Esta palavra é também para nós; fizemos a experiência de certa ‘escuridão’ durante este ano. A Luz é Jesus, o Menino do presépio a realizar a promessa e a manifestação de Deus no mundo. Também nasceu para nós; é isso que celebraremos. Jesus viria a afirmar: “Eu vim ao mundo como luz, para que todo o que crê em mim não fique nas trevas” (Jo 12,46). Com esta luz, as dúvidas já não perturbam, vemos mais longe, descobrimos outro sentido para vida, vencemos as trevas do egoísmo e da soberba, ganhamos esperança e motivação para fazer o que é bem aos olhos de Deus.
O Natal é boa notícia para os pobres. “Não tenhais medo! Eis que vos anuncio uma boa notícia que será uma grande alegria para todo o povo” (Lc 2,10). Não só aos pobres pastores de Belém, mas aos pobres de todos os tempos, sem distinção da cor da pele, da classe social ou da nação a que pertencem, abre-se um horizonte de nova vida. O Nascimento de Jesus é a esperança assegurada de que é possível uma sociedade mais humana, justa e fraterna. E assim, como aconteceu com Maria e José, também hoje, “as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração” (GS 1).
O Natal supõe intimidade e reconciliação familiar. O acolhimento do Deus connosco, o Jesus Menino do Presépio, acontece no seio de uma família, um casal. Este facto é inspirador para que, na intimidade das famílias cresça o desejável relacionamento na pureza do amor e da verdade. Cuidar desse relacionamento pode exigir um pedido de perdão por alguma ofensa, e se o amor que perdoa se revela permite a maior riqueza: o ambiente feliz de uma casa. É assim que a família se torna profética; que bom seria se em todas as famílias e no mundo inteiro reinasse o amor que perdoa. Maria e José são a referência de respeito, bondade e santidade que Jesus conheceu na sua família.
O Natal dá-nos contemplação e missão. O Menino do Presépio não rejeita ninguém; acolhe-nos e n’Ele contemplamos a humildade, a beleza e o amor com que Deus nos ama.Faço um apelo aos jovens e às crianças para que promovam ações e sinais que manifestem a presença da bondade de Deus.
Nas comunidades cristãs e movimentos apostólicos, na forma possível, promovamos a reconciliação, a esperança e a paz. A todos os padres, diáconos, religiosos/as e cristãos leigos, nos serviços paroquiais ou secretariados diocesanos, nos movimentos de apostolado ou na ação social, nas famílias, nas empresas e instituições, os votos de Santo Natal, extensivos em esperança a todas as situações de maior preocupação na área geográfica da Diocese.
José Traquina
Bispo de Santarém