Começou no campo com os pais, mas a restauração era a maior paixão. Foi empregado de mesa, esteve ao grelhador e até lavou loiça. Fez tudo. Trabalhou no Saraiva, no Campino, no Toucinho, no Forno e no Jaquim D’Adelina até se fixar no seu próprio espaço. Hoje, já reformado, orgulha-se da filha Raquel e do genro Luís terem assumido o negócio.
Joaquim Pinheiro Cardoso, 65 anos (faz 66, a 25 maio deste ano) é natural dos Foros de Benfica e foi o primeiro convidado do podcast “Sopa de Pedra com…”, de Valter Madureira.
Logo no arranque da conversa, o convidado apresentou-se: “Sou de uma família pobre que trabalhava no campo… nos campos de Vila Franca, onde eu estava nas férias a trabalhar.”
O homem que construiu um dos principais restaurantes do concelho (Restaurante “O Pinheiro”), começou a trabalhar cedo.
“Fiz a sexta classe e surge o Joaquim Domingues a perguntar se eu queria ir trabalhar para o café/mercearia e assim foi. Não vim com ele nesse dia, mas, no dia seguinte, lá comecei a trabalhar com 12 anos.”
Aí ficou até aos 16, altura em que o pai faleceu num acidente. Joaquim Pinheiro era família dos donos do restaurante “O Saraiva” no Cartaxo e, logo no dia do funeral do pai, Manuel Saraiva convidou-o para concretizar o sonho que era trabalhar como empregado de mesa.
Depois do Saraiva, Joaquim Pinheiro regressou a Almeirim para trabalhar no “Campino”, onde esteve três anos. Construiu casa nos Foros de Benfica e a ideia era deixar a restauração quando terminasse a casa, pois queria ter os fins-de-semana livres.
Ainda trabalhou na Fritejo durante duas horas, por influência de Manuel Sebastião e o Sr. Barbosa. Como ia casar pretendia ter algum tempo para a Ana Maria. No entanto, o Restaurante “O Forno” veio mudar o rumo da vida do Quim Pinheiro.
“O Henrique e o Chico vão montar o restaurante e foi a Fritejo que colocou lá o equipamento e, quando chegou a altura de abrir o restaurante, não existiam funcionários”, conta com um sorriso detalhando que “foi requisitado para ir servir os almoços no restaurante e depois regressava à Fritejo. Eu fui o primeiro empregado do ‘Forno’. Isto foi há 43 anos, mais ou menos”.
Do “Forno”, Joaquim Pinheiro foi ainda para o “Toucinho” onde esteve dois anos e pouco. Foi aqui que começou uma primeira aventura.
“Com mais um sócio (Zé Libério), de quem sou família e muito amigo, pensámos montar um restaurante. Sugeri procurarmos o Cartaxo e aí estivemos algum tempo, até que, numa noite, decidimos cada um seguir o seu caminho. Nesta fase já a minha Raquelzinha era nascida.”
Quando desfez esta sociedade, foi trabalhar novamente para o “Toucinho”, quase no dia seguinte a terminar a sociedade no Cartaxo. Mas parecia não se fixar em lado nenhum. Pouco tempo depois, o Quim estava, novamente, no “Forno”.
José Manuel Serralheiro da Costa (José Manuel Toucinho) foi mesmo “das pessoas mais marcantes da minha vida. Dizia que era bruto, mas sabia ouvir e não me esqueço o quanto me apoiou quando quis regressar do Cartaxo.”
Hoje, já afastado da vida ativa, Joaquim Pinheiro não tem dúvidas em afirmar o quanto foram importantes duas pessoas no seu crescimento. “Aprendi muito com eles (Henrique do Forno e José Manuel Toucinho). Foram pioneiros da restauração. O Toucinho foi mesmo o primeiro e o Sr. Henrique revolucionou. Uma pessoa que vinha de uma oficina, mas que tinha um talento que permitiu fazer a casa que fez.”
Sempre à procura de melhorar a vida e instigado por Carlos Silva (contabilista do “Forno” e do “Jaquim D’Adelina”), decide explorar a marisqueira durante três anos e um mês, mesmo não sendo o tradicional restaurante.
A procurar um espaço próprio e onde não pagasse renda, Joaquim Pinheiro decidiu comprar o restaurante do Manel, onde é hoje o Pinheiro. Fez o negócio do trespasse em 1992 com Manuel Lopes Joaquim, irmão do campino. A renda, naquela altura, rondava os sete/oito mil escudos (35/40 euros na moeda de hoje). O Pinheiro abriu com quatro/cinco empregados e, ao fim de semana, havia o reforço de pessoal.
E o caminho foi trabalhoso e difícil: “Sofreu-se muito. Logo no primeiro ano, tive a estrada muito tempo condicionada com as obras dos esgotos. No início, colocavam os carros junto ao meu restaurante, mas iam comer aos outros. Aos mais conhecidos. Demorou algum tempo a mostrar que o nosso também era bom. Quem lá ia tinha que passar a palavra. Demorou três/quatro anos, mas conseguimos muito também porque comecei a incluir mais o peixe e resultou, porque vendia muito, mas começaram a sobrar as cabeças e comecei a tentar grelhar. Foi uma loucura.”
Joaquim Pinheiro, empresário de sucesso, mas que construiu uma casa com muito trabalho, sacríficio e dedicação. Toda a vida trabalhou, desde servir à mesa, ao grelhador ou até lavar loiça. Fazia o que era preciso.
Nesta entrevista que pode ver no youtube ou ouvir no spotify, conta ainda que a filha Raquel foi o braço direito e esquerdo no negócio e chega a emocionar-se a falar do genro Luís, como sendo um filho. Na entrevista, Joaquim fala ainda várias vezes de Ana Maria, a esposa de uma vida que foi também sempre a principal companheira de Joaquim Pinheiro neste percurso de vida.
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Agradecimentos
Pedro Sousa e Silva, foi ele que teve a ideia. O Bruno Rafael Aguiar criou a imagem do cenário e genérico. Miguel Grácio, Estendal das Artes e António Simões, que deram dimensão ao cenário.
VM