Há uns anos, enquanto navegava na Internet, surgiu-me um vídeo de uma criadora de conteúdo búlgara (cujo nome, infelizmente, não me recordo) que analisava a individualização do dia a dia na Bulgária. O exemplo dado era o fim de uma tradição antiga: quando um casal ficava noivo, a vila juntava-se e construía uma casa para os recém-casados viverem. Depois, esse casal ajudaria a construir a casa dos próximos noivos e o ciclo continuaria, de modo a que todos os jovens tivessem sempre uma casa. Esta bonita tradição viu-se esmagada pelo enorme peso do mercado da habitação (que não gosta da ideia de andar a oferecer casas aos seus jovens) e pelo passo apressado do mercado de trabalho (que não deixa tempo livre aos trabalhadores para construir uma casa para os vizinhos). Estes tipos de atos de amor pela nossa comunidade já são muito raros e difíceis de manter no nosso dia a dia, porque tempo é dinheiro e, assim, atos de carinho custam muito caro.
Foi isso que encontrei na Festa do Avante: um profundo ato de carinho pela comunidade. Um ato de partilha coletivo, construído por militantes, amigos e curiosos, um ato de resistência contra priorizar dinheiro em vez de pessoas e, acima de tudo, de reivindicação do nosso direito a tempo de qualidade. Tempo de partilha com e para os outros, pois quem serve na Festa dá o seu tempo para ver os outros felizes.
Fazer parte da Festa fez-me pensar nesse vídeo e fiquei com vontade de avisar a moça que há ainda quem resista ao atropelo do tempo e aposte na partilha coletiva, cuja demostração máxima é a Festa do Avante e eu vou voltar todos os anos.
Maria José Vieira – CDU Almeirim