A meu ver, a escassez de psicólogos nas urgências hospitalares e por vezes a incapacidade de resposta destes técnicos em centros de saúde, associado ao acentuado número de casos de problemas mentais é uma lacuna do sistema de saúde em Portugal que merece ser repensada. A presença e atuação destes profissionais em situações de emergência e de crise tem vindo a ser discutida embora ainda haja um longo caminho a percorrer. A implementação de políticas que promovam o recrutamento de psicólogos para estes contextos é sem dúvida uma carência evidente. Investir na saúde mental é investir numa sociedade mais equilibrada, capacitada e próspera.
Mas afinal, qual a mais-valia destes profissionais nas primeiras linhas de atendimento? Nas urgências, do ponto de vista psicológico ou emocional, os psicólogos podem desempenhar um papel preponderante na intervenção em crise e no auxílio na recuperação a longo prazo. Muitos utentes procuram os serviços de urgência apresentando estados de crise, como ataques de ansiedade, ataques de pânico, ou até ideação suicida. Nestas situações em particular, uma intervenção cuidada e especializada por parte de um psicólogo pode ser determinante para num primeiro momento acolher e estabilizar o utente, seguindo-se a diminuição dos sintomas e prevenindo a agudização dos mesmo ou até o desenvolvimento de uma perturbação mental no futuro. Em acidentes, agressões ou lesões físicas, o utente pode depara-se igualmente com sintomas psicológicos/emocionais subjacentes. Neste sentido, a intervenção precoce por parte destes técnicos pode contribuir para a redução de sintomas, por exemplo, associados à perturbação de stress pós-traumático (PSPT), outra sintomatologia ou dificuldades que possam advir.
Os centros de saúde representam muitas vezes o primeiro contacto dos utentes com o sistema de saúde e podem adotar um papel de enorme expressividade tanto no tratamento de patologia(s) já existente(s) como na prevenção e promoção da saúde mental. Creio que a Psicoeducação é uma ferramenta poderosa na prevenção de problemas mentais através da organização, construção e implementação de campanhas de sensibilização ou a criação de gabinetes específicos compostos por equipas multidisciplinares que se dediquem ao esclarecimento destas temáticas.
As campanhas educativas visam promover a consciencialização da relevância da saúde mental, capacitar para a identificação e compreensão dos primeiros sinais ou sintomas e alertar para os serviços disponíveis na comunidade.
Falemos de saúde mental, mas coloquemo-la em prática com sentido de responsabilidade, apostando e investindo em recursos humanos e serviços próximos de qualidade acessíveis a qualquer um.
Adriana Zola – Psicóloga Júnior