Quem sou eu? De onde venho? Como aqui vim parar? Perguntas simples, com respostas tão complexas. Perguntas que inquietam meio mundo e que são ignoradas por outro meio mundo. Perguntas que viajam por esse mundo fora até encontrar repouso. Perguntas que procuram pela origem de tudo o que nos constitui como pessoas. Perguntas que nos fazem descobrir uma verdade tão simples, quanto grandiosa: nenhum de nós é o absoluto da vida. Muitos sonharam, amaram, sofreram, choraram antes de nós: os nossos pais, os nossos familiares, os nossos conhecidos, os nossos amigos e tantos outros. Tantos outros como Maria e José.
Perguntar pelas nossas origens leva-nos à construção de uma vida sobre bases sólidas. Para me tornar aquilo que sonho ser, preciso primeiro de conhecer o que sou, o que me constitui, o que me foi dado, o que me antecedeu, as tradições da família, da cultura, da sociedade. Nesses pilares que nos constituem, encontraremos as razões para celebrar. Daí que, nesta quadra natalícia, sejamos desafiados a celebrar alguns dos pilares que nos constituem como seres humanos: a paz, a família, o amor, a bondade e tantas outras coisas bonitas que estão ao nosso alcance.
Nesta onda de festas bonitas, por vezes esquecemos a razão de ser da celebração das mesmas: aquele Jesus menino que veio derrubar os poderosos e exaltar os humildes. Celebramos, porque queremos celebrar, sem dar valor às razões daquilo que celebramos. Celebramos, porque já estamos cansados da rotina, daquilo que tanto nos pesa. Celebramos, porque queremos festa. Celebramos, enfim, porque os outros celebram e deixamos que sejam esses outros a dar o mote para uma festa que já não parece nossa.
Celebramos, neste ano de 2023, os 800 anos do feliz acontecimento da construção do primeiro presépio da história, elaborado por São Francisco de Assis em 1223 em Greccio (Itália). É, portanto, uma ocasião de ouro para revalorizarmos a razão de ser de todas estas festas, a origem desta quadra. Tantos são aqueles que nas suas casas têm a tradição de construir esse altar de memórias e tantos aqueles que a esqueceram.
Ao contemplarmos a cena da natividade descobrimos a simplicidade de um amor que celebra a paz, a bondade, a justiça, a beleza e as outras tantas coisas que o nosso mundo tem necessitado. É bem bonito ver as cores, as luzes, as fitas, os enfeites, mas seria tão mais bonito ver nas ruas e dentro de nossas casas aquilo que precisamos realmente: um amor simples, que reconhece e respeita as vidas que se cruzam com a nossa. Sejamos construtores destes presépios vivos em cada lugar onde estivermos neste tempo.
Que seja um Santo e Feliz Natal, de todos, para todos.
Pe. Bruno Filipe