A True celebrou, em setembro, o seu décimo aniversário. A abertura da loja ocorreu no W Shopping de Santarém, com a marca espanhola Trucco. Decorrido umperíodo de três anos, o contrato com esta superfície comercial foi alvo de revisão. Não tendo sido possível chegar a acordo relativamente ao novo valor de rendaproposto, decidimos (eu e o meu marido, parceiro de longa jornada) (re)abrir noutra localização. Optar por Almeirim pareceu-nos o mais coerente, não só por questões de residência, mas também porque esta cidade tem umcomércio local bem consolidado e diversificado. Já estamos em Almeirim há sete anos e temos vindo a alargara nossa oferta a nível de marcas e artigos, de forma apodermos ser mais competitivos a nível de estilos, tamanhos e preços.
Poderia dizer que a True tem cerca de cinquenta anos no meu coração. Desde a infância que sonhos e projetos fazem parte da minha identidade. No ensino secundário, optar por uma via foi tarefa árdua. Sentia-me atraída pelo Direito, pela psicologia, pela literatura e pelo jornalismo (a decoração de interiores e a remodelação de casas são paixões mais recentes). A atração pelo comércio começou, no entanto, nas brincadeiras de infância com a amiga Ana e com a prima Ju, cujos sonhos passavam pela medicina e pelo ensino. Já eu queria ser “mulher da loja”, inspirada talvez na mercearia da esquina da pacata rua da minha aldeia de Benfica do Ribatejo (hoje, uma vila). Penso que a minha mãe ficava pouco entusiasmada com estes meus planos e, hoje, diz a brincar que tanto andei, tanto andei que tive de ser “mulher da loja”!
A abertura da True foi a concretização de um projeto,mas também a execução de um plano que possibilitasse a saída antecipada de uma vida profissional de grande desgaste emocional e mental. O cansaço de ser professor (que só percebe quem é professor) viu aqui uma hipótesede evasão, uma possível saída, um escape. Por um lado, o sonho concretizou-se: poder escolher coleções, lidar com clientes, fazer montras, ter uma loja, por outro, acabou por ser trabalho acrescido durante uma década. Como alguém disse: a mim, a sorte, deu-me imenso trabalho. Sempre tive pessoas a tempo inteiro na loja e nunca me empenhei menos como professora ou deixei de fazer o que quer que fosse, quem trabalhou comigo sabe que é assim. No meu penúltimo ano de ensino, consegui lecionar três disciplinas, ser diretora de turma, coordenadora de departamento e coordenadora do projeto Erasmus+.
A loja foi existindo, foi sendo dinamizada. Felizmente, tive ao meu lado boas colaboradoras com quem pude contar. Há tanto para lembrar! Eu e a Ana, sentadas na montra do W Shopping à meia noite, a chorar, porque uma manequim se recusava a deixar enfiar a perna! Um tronco de madeira enorme que nos encheu a loja do shopping de formigas! Os alarmes da roupa que não queriam sair e tantas outras façanhas mais e menos interessantes. Uma das colaboradoras do W Shopping, a Rita, esteve na loja em Almeirim nos dois primeiros anos. A Verónica está comigo há cinco anos e tem feito um excelente trabalho.
A True faz parte de uma viragem no meu percursoprofissional. No último ano, tenho podido dedicar-me mais e estar mais presente, pois deixei o ensino em agosto do ano transato (de mãos a abanar, pois está claro, que a idade de reforma será daqui a dez anos, se Deus quiser). O nosso conceito de loja é inclusivo. Não trabalhamos para um nicho de mercado, disponibilizamos vestuário feminino diversificado no tamanho, no estilo e no preço, sempre com qualidade e com boas marcas reconhecidas no mercado, com design português, espanhol, holandês, gregoe francês. Abrimos também (durante a pausa imposta pela pandemia) uma pequena loja de decoração no mesmo espaço.
A True não é o meu projeto único, mas é, sem dúvida, um projeto especial, que me dá muito prazer.
Cristina Carvalho