Aluna finalista do curso de medicina, Joana Hortet terminou, recentemente, o seu estágio em pneumologia, especialidade com a qual confessou simpatizar bastante. Joana descreve-se como sendo ambiciosa, focada, atenta, interessada, proativa, pertinente, assertiva e destemida. Ao jornal O Almeirinense explica como tirou o curso de medicina, já a trabalhar, e confessa que tem o desejo de voltar à sua terra.
No dia 13 de maio terminou o curso de medicina já depois de ter feito enfermagem. Porque decidiu tirar este segundo curso? Sempre quis ser médica?
Quando ingressei na área da saúde, no curso de enfermagem, confesso que não sabia bem ao que ia. Escolhi enfermagem sobretudo pelo contacto e comunicação com as pessoas, por ser um trabalho dinâmico e na área das ciências, que sempre foi a minha área de interesse. Ao longo do curso de enfermagem, com o passar do tempo, senti que precisava de diferentes responsabilidades e que queria saber e poder fazer mais, por isso, logo durante o curso surgiu a ideia de depois tentar ingressar em Medicina e trabalhei nesse sentido até conseguir entrar.
Que especialidade quer fazer?
Ainda é uma pergunta difícil porque o método de escolha da especialidade em Portugal é através da nota de um único exame – que irá ser no final deste ano. No entanto gosto muito da área de Pneumologia, anestesiologia mas também a Medicina Geral e Familiar.
Nunca pensou: “no que me fui meter”?
Todos os dias destes últimos anos. A verdade é que é um curso muito exigente e como fiz o curso todo a trabalhar aos fins de semana, fez com que o processo de gestão de tarefas, estudo e até de cansaço tenha tido momentos bastante complicados. Mas por muito clichê que pareça, não há mesmo nada que não se consiga quando se quer muito. Muitas vezes parecia mesmo impossível dar conta de tanto estudo, com entrega de trabalhos e ainda gerir a própria vida pessoal e profissional, ainda que a part time, mas por incrível que pareça, muitas vezes quando estamos mais ocupados é quando conseguimos ser mais organizados e focados.
Quando era criança tem memória do que queria fazer quando fosse adulta?
Cabeleireira ou cantora, mas nunca tive jeito nem para um, nem para outro. (sorrisos)
Sempre foi boa aluna?
Nunca fui uma aluna muito focada. Sempre fui muito faladora e distraída. O foco começou a aparecer só na altura da faculdade de enfermagem, porque aí já tinha um objetivo. A verdade é que a Faculdade de Medicina do Algarve não é contemplada no Concurso Nacional de Acesso à Universidade mas sim, num método diferente para a seleção dos seus alunos, dado que todos os candidatos têm que ter uma licenciatura prévia em saúde. O que importa numa primeira instância são as notas em exames específicos de raciocínio abstrato, numérico e verbal mas numa segunda fase é feita através de uma série de Mini entrevistas onde são avaliadas características consideradas importantes num médico como a empatia, o humanismo e a capacidade de resposta e raciocínio.
Quais são as principais características que são necessárias para ser um bom médico?
Eu diria que a empatia e o respeito pelo próximo são as características número um para um bom médico.
Portugal tem um déficit de médicos. Porque acha que acontece isto?
Portugal não tem falta de médicos. Portugal, actualmente, tem falta de médicos no SNS. Isto acontece pela falta de condições de trabalho, dado que o SNS perdeu a capacidade de ser a atrativo para os médicos especialistas, com carreiras estagnadas e condições de trabalho precárias.
Gostava de vir para Almeirim?
Sim, sempre foi o meu objectivo voltar para Almeirim e poder exercer no Hospital de Santarém.
Em que medida as pessoas a quem agradece no post foram importantes?
Estes anos foram realmente muito duros e sem o apoio das pessoas que me são próximas eu acho mesmo que não iria conseguir acabar o curso. Sou mesmo profundamente grata a minha família, aos meus amigos próximos e ao meu namorado porque ouviram tantas e tantas vezes as minhas queixas e dúvidas.
Apesar de todas as críticas, acha que o serviço nacional de saúde tem qualidade ?!
O SNS tem muitas qualidades, mas neste momento, na minha opinião, precisa de uma forte reforma para que volte a transmitir confiança e para que possam ser prestados cuidados de excelência ao público. Infelizmente falta investimento e olho com alguma expectativa é até receio para o que será o futuro entrevista do SNS