O lugar onde a 1ª foto foi tirada, pelos vistos já deve ter uma “pipa d´anos” foi ali nesta esquina uma loja de ferragens tintas e vernizes, do lado esquerdo, a rua onde hoje vai até ao antigo Tribunal, e onde encontra- -se hoje, a Oficina antiga dos irmãos “Quinas”. Foi ali nos anos 20/30 que existiram as primeiras e bem celebres passagens de filmes ainda do Cinema Mudo. Independente de alguns ilustres Almeirinenses confidenciarem através de conversas e testemunhos vivos (o meu pai), onde se encontra o nosso Mercado, e em algumas adegas ali bem perto, (Do Palaló) foram passados também filmes, com som de fundo de Grafonolas e nalguns casos quem não se lembra das Gateiras? Aqueles buracos debaixo dos portões das adegas, onde os gatos entravam e saíam, e já contribuíam para a eliminação dos ratos, logo era por aí que quando a lotação estava esgotada mais ninguém podia entrar, quem ficava cá fora a vingança era feita. Com um bocado de enxofre a arder e atado a um gato, este depois de enviado lá para dentro á força empestava com o fumo o interior, logo muitas vezes o Cinema ficava por se ver porque o pessoal fugia todo com o mau cheiro.
Esta técnica foi durante muito tempo utilizada também em bailes de barroas. Logo a seguir poderemos ver as grades seculares do nosso Jardim da República em tempos foram de madeira e só mais tarde feitas em ferro, que ainda se encontram por lá. Foi aí que o nosso mercado teve inicio, conjuntamente com a contratação de trabalhadores vindos de outra paragens para a agricultura, infelizmente ainda muitos da minha geração, chegamos a vê-los junto ao atual Mercado feito em 1932 na altura das Vindimas para um possível e posteriormente contrato de trabalho, mas antes disso muitos mendigavam um bocado de pão, tal é que qualquer dia este espaço será demolido conforme um antigo Presidente da Câmara o fez com os restos do Paço Real já lá vai uma carrada anos, ainda houve alguém que disse na altura e ficou célebre a frase –Trava, Dionize, ainda te vais arrepender, um dia há de aparecer um tipo chamado Gil, que vai escrever numa cronica qualquer Almeirinense tal burrice que fizeste…!
Continuando, ali na Praça da República era de tudo vendido. Gado, tudo de produtos da terra, peixe que por acaso ainda em pequeno perguntava ao meu pai o porquê de bocados de grades estarem incompletos e outros não, a resposta era simples, a venda do peixe naqueles sítios, onde não havendo gelo, era substituído por sal, logo este, ao longo dos anos o foi corroendo. Poderemos ver do lado esquerdo a seguir ás grades na esquina uma Mercearia, e supostamente a existência de uma barbearia do Sr. Edmundo Gameiro, e um Tanoeiro de nome Sá Dias, neste caso último onde se encontrava o Restaurante “do Ramiro” ou a dita Pastelaria do Zé Clara. Esta Mercearia viria por artes mágicas dar lugar ao nosso Cine Teatro em 1939, e a sua inauguração em junho de 1940.Do outro lado onde se encontra a Farmácia da “Senhora” foi em tempos ao lado uma loja, A dos Frazões, mais tarde para o Sr. Carlos Alves, Pai do nosso conterrâneo Arnaldinho. Ao lado um Alfaiate de alcunha “o Cágapitos”, e ao lado também houve uma Sapataria do Mestre Tiago, e logo a seguir onde se encontra o Montepio uma Loja de Fazendas denominada a Loja do Povo.
Mais tarde a casa do Dr. Rosa e Marques da Cruz, serão edificadas. A foto aqui inserida mostra parte de Almeirim que era descrita antigamente, como a Rua do Comércio, no Sec. XIX. No lado esquerdo poderemos verificar uma casa térrea que mais tarde virá a ser os nossos Correios (CTT) onde por cima no primeiro andar virá ser a casa do Sr. Brilha à custa da sua ditosa Esposa, a chefe dos ditos Correios e seus aposentos de tão afamado solar que o símbolo ainda descrito por um cavalo e um rapazinho a tocar trombeta poderia ter sido inspirado ou considerado uma réplica do Ciroulha a beber numa garrafa de meio litro em cima do seu burro. Este edifício atual que remonta com alguns anitos, para isso terá hoje honra de abertura para aqueles que palmilharam quilómetros para nos dar notícias tanto boas como más, o meu tributo aos Carteiros.
Mas antes para muitos que ainda se recordam foi em tempos uma Loja de venda de Mobília, colchões etc., do Pai do Sr. Costa e Silva. Eram como os demais como o Conjunto António Mafra os definiu com uma canção que além de popular era protagonista de uma fase que iria ser popular. A “Canção do Carteiro” nos anos 60 “, que não tinham culpa de não ter carta pra patroa, mas tinha para a sua criada ”. Tinham a decência de ter um trabalho eficaz. Nada falhava e se tal acontecesse éramos nós muitas vezes os utentes que os desculpávamos. Mas os tempos mudaram, ás vezes tenho cartas que me são entregues no meu domicilio que deveriam estar por exemplo no lado oposto de Almeirim como se costuma dizer, o Barato saiu caro! Mas uma carta foi e será sempre uma carta de bom ou de mau todos vamos diariamente esperando de tudo apesar do telefone e as técnicas modernas de comunicação, vão aos poucos tentando esquecer o que já existiu. Antigamente as cartas com os selos do cavalinho carimbadas com um círculo (CTT), traziam novidades de amores, desilusões, da polícia, tribunais, amigos, era uma constante no Natal, as Boas Festas, nos aniversários, no dia da Mãe, 8 de dezembro até isto acabou, mas temos consciência numa fase antiga e bastante critica, os Aerogramas vindos e idos do e pra o Ultramar mexiam cá dentro. Mas também por essa via quantas cartas de carnaval se enviaram e se recebeu anónimas para gozo e às vezes dizer o que se sentia ou mesmo por vingança. Muitos namoros foram feitos dessa maneira e outros não chegaram a vias de facto.
Também muitas histórias de carteiros andam por aí em Almeirim, por exemplo uma que ficou bastante conhecida da tal mãe que ao mandar uma carta para o filho lhe escreveu que era para mandar cem mil reis e não os tinha posto, porque já a tinha fechado, ou também aquela, em que o carteiro andava-se a fazer a uma criada, e como esta não recebia cartas de ninguém, ele até lhe podia dar uma carta…a do” Às de Paus”, o que ela lhe respondeu logo de seguida, que ele até podia eventualmente um dia receber um Dois de Paus também, mas…na testa! também para recordar que no principio as ruas da nossa terra começaram por se chamar pelos números,…rua Nº 1, rua nº 15, etc… só mais tarde começaram a dar nome ás ruas, em memória dos que foram ilustres por cá, hoje já não é preciso ser ilustre para ter uma rua ,qualquer sombra do 25 de Abril, pimba, toma lá uma rua com o teu nome, só é pena na verdade não darem o nome á rua do Constantino Matias onde morou, pelo menos a história já do tempo do antigo presidente Dr. Torrão Santos teve fundamento, para alguns, era uma grande honra para o homem não acham?
Continuando na fotografia. Em frente apesar de ter havido naquele palacete muitas lojas de Comércio recordo o Consultório do Dr. Albergaria digo apenas que aquela personagem para muitas donzelas dos anos 30 muitas tiveram que comer o pão que o Diabo amassou, porque já na altura o Dr. Albergaria era um “Leonardo de Caprio”, lindo diziam já na altura as divas…! Tanto de um lado como do outro as lojas pertenceram ao Pai do Sr. David Costa e Silva. Mais à frente para não variar, hoje há um Banco casa pertença do Pai de um abastado e bem conhecido Sr. Vasco de Andrade. Os azulejos da frontaria foram tragados pelo sucesso…