José Miguel Dias, ou Zé Miguel, como é conhecido no mundo do futebol, conquistou a Taça do Ribatejo 2021/2022 ao serviço do Fazendense, no seu primeiro ano como treinador de futebol sénior. em entrevista para o ‘+desporto da almeirinense tv, o técnico fala da conquista, do seu plantel e do ‘seu’ fazendense. Esta entrevista foi gravada antes da conquista da Supertaça pelos charnecos.
O Fazendense ganhou a sua 5º taça do Ribatejo no dia 5 de junho, batendo o Sport Abrantes e Benfica nas grandes penalidades por 5-4. Em primeiro lugar que análise faz ao jogo, considera o resultado justo no final dos 90 minutos?
Antes de mais, mais uma vez agradecer o convite. É uma honra e um prazer estar aqui em meu nome e em nome, obviamente, do meu Fazendense. Considero que foi uma final muito bem disputada, muito equilibrada, um adversário muito digno, com muita qualidade, muito competente, que mostrou claramente muita vontade em vencer. Entrou forte no jogo, não permitiu que nós fôssemos aquela equipa que costumamos ser, mas acaba por ser um resultado justo, visto que o jogo foi bastante equilibrado. Depois, foram as grandes penalidades, e podia cair para qualquer um dos lados e felizmente caiu para nós, também tivemos alguma competência nas grandes penalidades, acho que acaba por ser justo.
O Fazendense entrou um bocadinho mal no jogo, sentiu ali alguma dificuldade sobretudo nos primeiros 30 minutos, na sua opinião porque é que isto aconteceu?
É verdade, sim, não entrámos bem no jogo, não nos encontrámos, não podemos ser alheios ao facto de ter sofrido um golo nos minutos iniciais. A carga emocional e a importância do jogo estava a mexer com os jogadores. A verdade é que, se calhar, mais de metade dos jogadores nunca estiveram num jogo de decisão, numa final. Mexeu emocionalmente ver tanta gente, toda a gente a olhar para eles, os holofotes todos focados neles, não conseguimos entrar fortes como normalmente costumamos entrar. Acabámos por sofrer um golo, chegámos ao empate já perto da meia hora, e acho que aí estabilizámos o nosso jogo.
No final do jogo o Abrantes deixou algumas críticas à Arbitragem. Que comentário faz a estas críticas?
Parece que não faz muito sentido, essas críticas. Percebo que quando não vencemos olhamos para todos os lados, tentamos arranjar um culpado. Eu já vi o jogo várias vezes, como devem calcular, e as queixas da parte do Abrantes, sinceramente, não fazem muito sentido. Não faz sentido numa final da taça, num jogo tão bem disputado, tão equilibrado. Sinceramente, mesmo sinceramente, acho que não houve influência no resultado. Faz sentido falar do jogo, dos jogadores e dos treinadores, de tudo menos do árbitro.
E relativamente ao campeonato, que balanço faz da prestação da sua equipa?
Eu acho que acaba por ser um ano muito satisfatório. Terminámos em 3º lugar. Foi pedido inicialmente pelo clube tentar andar nos lugares cimeiros, nomeadamente nos cinco primeiros, e esse objetivo foi claramente conseguido. Gostava de ter ficado um bocadinho mais à frente; gostava de ter chegado pelo menos à luta do primeiro lugar e estar nas fases de decisões. Eu digo sempre isto: os meus objetivos pessoais, enquanto treinador deste tipo de clubes, com esta ambição e com esta qualidade de jogadores, têm que ser sempre estar nas fases de decisão. Estivemos na fase de decisão da taça do Ribatejo, felizmente, e vamos estar na decisão da Supertaça. Foi um campeonato meritório, acho que perdemos alguns pontos onde não podíamos ter perdido com adversários, teoricamente, não gosto de dizer mais fracos, mas que tínhamos a obrigação de vencer. Nós fizemos algumas leituras e algumas estatísticas: Se fosse um campeonato só com os 5 primeiros classificados nós seríamos os campeões. Isto é estranho, num ano em que o Rio Maior, primeiro classificado, não perde com ninguém e tem uma derrota no campeonato, que por acaso é connosco. Mas estamos a falar de uma equipa que não perde muitos pontos e, se fosse um campeonato a cinco, nós seríamos campeões. Isto mostra que nós não fomos tão competentes com os debaixo da tabela como fomos com o de cima e isso tem de nos fazer pensar e fazer crescer e esse é, claramente, o nosso objetivo: mudar a mentalidade. poderíamos ter chegado um bocadinho mais à frente, mas não deixa de ser a melhor época dos últimos 15 anos do Fazendense.
O Fazendense ficou a 20 pontos do primeiro classificado, Rio Maior. Considera que eles foram mais fortes que toda a concorrência?
Para mim, foi claramente a equipa mais forte, foi claramente o justo vencedor. Foi muito regular. Os pontos que eu perdi na segunda volta são os mesmos pontos que o Rio Maior perdeu no campeonato inteiro, quando assim é, acho que não há contestação nenhuma. Eles têm uma ideia de jogo muito positiva, têm uma equipa com muita qualidade, com jogadores individualmente fortíssimos, com uma ideia de jogo coletiva muito forte, é um trabalho muito bom do mister Gonçalo. Para mim, são claramente os justos vencedores do campeonato.
Na sexta-feira termina a temporada com a Supertaça. Apesar da diferença pontual considera que há hipótese de ganhar?
Considero claramente que há hipótese de ganhar, nós vamos preparar o jogo da melhor maneira possível para vencer. É um jogo de consagração, é o vencedor do campeonato contra o vencedor da Taça e é o último jogo da época. Mas numa final tudo pode acontecer. Quem estiver mais tranquilo emocionalmente, quem estiver mais focado, acho que pode conseguir vencer o jogo. Eu acho que temos hipóteses de vencer, até porque temos três e fomos a única equipa que venceu o Rio Maior. Espero um jogo com muita qualidade, um jogo muito aberto, um jogo de festa com duas equipas com ideias de jogo muito positivas, com futebol muito ofensivo. Acho que vai ser um grande espetáculo e que, no final, seja o Fazendense o vencedor.
Voltando à final da Taça do Ribatejo, o presidente Botas Moreira garantiu a sua continuidade. Tem sido um desafio aliciante treinar o Fazendense?
Sim, irei continuar na próxima época no Fazendense. Tem sido um desafio muito aliciante, mas também muito maravilhoso, delicioso, como quiserem interpretar. Tem sido mega desafiante. Eu sou treinador há alguns anos e foi o meu primeiro ano no futebol sénior. Obviamente, que há aqui um upgrade, há aqui uma diferença entre trabalhar no futebol sénior, e trabalhar na Formação. A minha ideia de jogo é a mesma, a minha forma de treinar, de trabalhar, a forma como tento implementar as minhas ideias é a mesma. É muito aliciante, eu tenho que ser melhor todos os dias, porque os meus jogadores têm muita qualidade. Eles têm que olhar para o meu treino e tem que ser um treino desafiante, eles têm que olhar para mim e dizer: “fogo, pá, este homem, realmente sabe o que está a fazer, vai-me ajudar, vai-me permitir ganhar”. E eu noto isso, até pelas mensagens que eles me enviam, porque se sentem desafiados com a nossa forma de trabalhar, é o nosso melhor indicador de que estamos no caminho certo.
Já teve a oportunidade de trabalhar com o presidente enquanto jogador, agora trabalha enquanto treinador, têm uma boa relação?
Nós temos uma boa relação. Temos uma relação de muito respeito, até de alguma intimidade e de algum carinho. Nem sempre, obviamente, concordamos, ele tem algumas vezes uns pontos de vista, eu tenho outros, faz parte do futebol e faz parte da vida, agora, há uma coisa que eu tenho muito que é respeito, um grande carinho, uma grande admiração. Já o conheço há muito tempo, sei perfeitamente a forma de ele ser, a forma de ele estar , é uma personagem ímpar. Eu consigo entender-me com ele porque nós temos um bem comum: o que interessa para ele é vencer e, para mim, é o que eu mais quero, é que o Fazendense vença. Nós, no final, estamos claramente no mesmo ponto e queremos o mesmo.
E que razões explicam o sucesso do Fazendense, que tem cinco Taças do Ribatejo no seu currículo?
É mais ou menos um bocadinho por aí, eu acho que o maior nome que podemos apontar é o do presidente Botas Moreira. É alguém muito ambicioso, é alguém que fez e faz um trabalho incrível no clube, que não permite muitos relaxamentos, está lá todos os dias para que não falte nada aos profissionais do clube, neste caso, nós, treinadores, equipa técnica, jogadores e toda a gente envolvida no processo. Ele tem uma paixão gigante pelo seu clube, pelo nosso clube, ele quer muito vencer e acho que isso contagia e passa para nós, nós sabemos que temos que vencer, por ele, pelo clube, por nós e por toda a gente. Eu acho que é isso o grande segredo do Fazendense: é o presidente Bota Moreira e o facto de ser um clube muito sério, um clube que recebe bem toda a gente, é um clube muito apetecível de jogar e muito apetecível de pertencer.
E antes de terminar esta entrevista, e também no âmbito desta grande conquista, gostaria de deixar aqui algum agradecimento?
Sim, claro, tenho muitos agradecimentos a fazer, muitos mesmo, tenho muitos obrigados a mandar. Antes de mais, ao meu clube, ao meu símbolo, ao meu Fazendense, por me ter permitido voltar a uma casa que eu tanto gosto, uma casa que me diz tanto. Este clube permitiu-me ter acesso a um plantel incrível, permitiu-me ter acesso à minha primeira grande conquista enquanto treinador, que é a Taça do Ribatejo. Obviamente, ao senhor presidente, porque, é o símbolo máximo do clube, e por tudo o que fez por mim. Ao Luís Ferreira, que é o nosso diretor, o nosso responsável, porque foi, se calhar, o primeiro a confiar em mim, foi o primeiro a olhar para mim com olhos de ver, foi alguém com quem eu trabalhei de muito perto, que teve sempre uns bons momentos, festejámos muito, nos maus momentos esteve sempre ao meu lado, e isso eu nunca esqueço, e é alguém que eu devo muita admiração e muito respeito. Depois, ao professor Paulo Frajuca, ao Luís Esteireiro, o melhor técnico de equipamentos do distrito, quiçá do país, com uma ligação aos jogadores. Eu acho que ele sabe o quanto é importante para nós, mas é mesmo realmente importante. Vou me esquecer de alguém de certeza, ao Febras, a dona Madalena, que nos prepara os almoços todos os domingos, que nos conduz para os jogos, ao Mário da sede, a toda a gente que está envolvida no processo e no clube. Muito obrigado! Vocês são parte das conquistas, vocês são uma parte fundamental das conquistas. Depois, não me posso esquecer da minha equipa técnica, ao meu adjunto de uma vida, ao meu grande amigo Gonçalo, sempre presente, sempre com trabalho fantástico, ele é claramente o pilar e a base do nosso sucesso, pelo menos para a minha sanidade mental, como eu costumo dizer. Muito obrigado ao Mauro, que nós não conhecíamos, mas trabalhou connosco este ano, é o adepto mais apaixonado do Fazendense, e foi incrível. A Joaninha, que filma os jogos, está sempre presente e que adora o clube, a toda a gente que está envolvida no processo. Obviamente, não posso deixar de agradecer aos meus pais por tudo, pois tudo o que eu sou devo-lhes a eles. Agradecer à minha esposa, à minha mulher, ao meu filho que nasceu este ano e é claramente especial. Ser pai é ainda mais especial Ganhar depois de sermos pais, esta conquista é muito, e da minha parte é toda para ele, o papá ama-te, Manel. E depois por último, mas, claramente, o mais importante e a grande base do sucesso, agradeço aos jogadores. Os jogadores é que fazem o treinador, eu não sou ninguém sem os meus jogadores, os meus jogadores é que permitiram estar aqui hoje a falar, permitiram estas conquistas todas, eu sou o maior fã deles e eles sabem disso. Eles são e foram incríveis e incansáveis, com um trabalho incrível e acreditaram na minha ideia desde o primeiro dia. Não é fácil lidar com um treinador novo que vem, que não tem provas dadas no futebol sénior, com uma ideia que eu sei que é completamente antagónica àquilo que é muito do nosso futebol distrital e eles, “bora lá, acreditamos na tua ideia, vamos contigo até ao fim”. Nos momentos delicados nunca deixaram de dar as mãos uns aos outros, nunca deixaram de me dar a mão, eu senti sempre essa energia deles. Depois têm uma qualidade incrível e quiseram ter uma vontade de vencer enorme e esta conquista é por eles, deles e o meu muito obrigado a todos eles, mesmo.