A empresa de contabilidade João Carvalho está a mudar de instalações e a passagem para as novas instalações, no cruzamento das ruas Bernardo Gonçalves/Dionísio Saraiva, foi o motivo para uma conversa com o proprietário. Já em fase de acabamento, deixamos algumas fotos. A empresa até vai em breve passar para 13 funcionários.
Primeiro que tudo, o ano de 2022 vai marcar uma mudança de espaço do vosso escritório. Porque decidiu fazer esta mudança?
Esta mudança foi motivada pelo crescimento da nossa equipa e da carteira de clientes. No ano 2021, pela primeira vez, não conseguimos aceitar algumas empresas que gostariam de trabalhar connosco. Começámos a sentir alguma dificuldade em dar resposta, por isso, tivemos de continuar a aumentar a equipa, para não baixar o nível a que os nossos clientes estão habituados. O aumento progressivo da equipa fez com que as ótimas condições físicas que tínhamos inicialmente se fossem perdendo: tínhamos três salas para reuniões e ficámos com apenas uma (por causa da criação dos novos postos de trabalho); perdemos o “espaço do café” e estávamos a ficar com pouco espaço individual de trabalho, enfim, foi mesmo uma necessidade. Andávamos já há algum tempo à procura de um espaço maior, mas não foi fácil encontrar algo que satisfizesse as nossas necessidades. Quando entrei nas novas instalações pensei que era mesmo isto que eu pretendia: dimensão, luz, possibilidade de criar algo quase a partir do zero. O edifício, que já foi uma das grandes casas de Almeirim, estava esquecido e degradado. Tornou-se um desafio para nós devolver este espaço à cidade, conferindo-lhe a dignidade que merece. Esperamos tê-lo conseguido. Em modo de tributo, recuperámos um velho candeeiro que estava no exterior e colocámo-lo no interior, batizámo-lo de candeeiro “Fernanda Pena”. Para mim, é muito importante que os meus colaboradores se sintam bem. Claro que o ótimo ambiente que temos enquanto equipa é o mais importante, mas o espaço de trabalho tem um peso muito grande no nosso bem-estar, é a nossa segunda casa. Este trabalho de remodelação foi projetado e conduzido pela minha esposa, que tomou as decisões de design e decoração e coordenou toda a equipa de trabalhadores que foi necessário contratar.
O que vai mudar para os clientes?
Só mesmo o espaço e o local, com mais e melhores condições e com um design diferente, porque os serviços continuarão com a mesma qualidade.
Este local aumenta também a visibilidade da “marca” João Carvalho contabilidades?!
Esta pergunta é interessante. A empresa sempre apostou muito pouco em publicidade. Até agora, o nosso crescimento deve-se sobretudo aos nossos clientes. Posso dizer que é raro um cliente que venha trabalhar connosco que não traga outro cliente com ele. Já falámos sobre isto algumas vezes, na opinião da equipa isto deve-se à forma como acompanhamos o cliente e a forma como a informação lhe chega. Os nossos serviços não se limitam à contabilização de documentos e ao cumprimento das obrigações legais. Qualquer empresa, para ser bem sucedida, deve refletir sobre o seu desempenho, para poder melhorar e estabelecer objetivos futuros. Nós ajudamos os nossos clientes a olharem com espírito crítico e analítico para os seus resultados e isso contribui para a tomada de boas decisões. Na nossa empresa, o foco está no cliente e na sua necessidade de informação.
No início do ano também foram reconhecidos porque adotam práticas de gestão eficientes e estão entre as melhores PME 2020. Esta é também uma excelente notícia para a equipa?
Sim, para nós foi um prémio e um reconhecimento pelo nosso trabalho (fomos reconhecidos também em 2021). É um prémio que pertence a toda a equipa. Adotamos boas práticas de gestão, e como poderíamos não o fazer? Para os nossos clientes terem confiança em nós, temos que ter credibilidade, e esta distinção reforça o nosso papel enquanto empresa e enquanto prestadores de serviços.
Como classifica a equipa?
Eu tenho o prazer de trabalhar com uma equipa jovem, com ambição, motivada. E quando digo “jovem” não me refiro apenas à idade, temos “jovens” na casa dos cinquenta que não estão acomodados nem cansados, pelo contrário, querem continuar a aprender, a apostar na sua formação e a ambicionar chegar mais além. Também temos jovens recém-formados e é gratificante ver como todos se relacionam bem, dentro do mesmo espírito. O projeto e a visão da empresa são partilhados. Cerca de 75% dos meus colaboradores são formados em contabilidade e fiscalidade ou em gestão de empresas, todos os outros já frequentaram ou frequentam cadeiras específicas no ensino superior. É a empresa que incentiva e financia as despesas de quem quer chegar mais longe, pois a formação nesta área é fundamental. Quando um licenciado em contabilidade sai da universidade e entra numa empresa como a nossa, demorará sempre entre 3 a 5 anos a ser autónomo e a conseguir gerir uma carteira de clientes. A formação da equipa, para nós, é essencial. Apostamos na formação externa, mas também, de forma muito ativa, na formação interna e nos nossos métodos de trabalho.
As equipas e as pessoas são os principais ativos das empresas. Concorda?
Sem dúvida, sem bons profissionais não é possível ter boas empresas. Eu tenho uma máxima de que um bom profissional, primeiro, tem de ser boa pessoa, e como boa pessoa, entendo que tem de ser honesto, ter bons valores, bons princípios. Sem isso não será um bom profissional. Felizmente, tenho uma casa cheia de boas pessoas que são bons profissionais. E isso percebe-se e transmite-se.
Qual o papel de um escritório de contabilidade e gestão?
Sabe, hoje essa noção de escritório de contabilidade, que faz a contabilidade e envia declarações fiscais para a autoridade fiscal, não chega. Desde que iniciei a empresa, o meu objetivo foi sempre ir mais além. A minha área de formação é em gestão de empresas e sempre associei a contabilidade à gestão. A nossa intenção não é ser o gestor de cada empresa, para isso já lá estão os empresários, mas entendemos que é fundamental o nosso papel, ao proporcionar informação, reflexão e ferramentas que permitam a cada empresário tomar boas decisões sobre o seu negócio. Dou-lhe um exemplo: tivemos uma reunião de final de ano com um cliente novo, então apresentámos vários mapas comparativos, analisámos gastos e proveitos, apresentámos ideias e sugestões. O cliente esteve sempre muito atento e, no fim da reunião, confidenciou-nos que nunca tinha tido uma reunião deste género no contabilista anterior e afirmou “Afinal, aqui também se ganha dinheiro.” E isto para nós é gratificante, pois sabemos que estamos a acrescentar valor ao negócio.
Concorda com a subida do salário?
Sim, concordo, é benéfico para a economia, vai trazer mais estabilidade para as famílias e aumenta o poder de compra. No entanto, penso que quem nos governa, deve fazer a sua parte para que esta subida seja um bem para a economia e não o embrião de outra crise financeira, os aumentos devem ser feitos de uma forma sustentável para não pôr em causa o futuro. Para existir um aumento tem que existir capacidade para pagar mais e recursos disponíveis para produzir maior rentabilidade para suportar esse aumento (incluindo os 34,75% que vão diretos para o estado, só em segurança social, porque ainda falta o IRS…). Não podemos esquecer que o estado ficará sempre com mais de um terço desse aumento. Em termos empresariais, concordo com um sistema diferenciado de salários, de acordo com a formação, rentabilidade e empenho e com um sistema de distribuição de acordo com os resultados das empresas. É isso que eu pratico, uma empresa é um organismo em que todos os que contribuem devem ser recompensados de uma forma justa, de acordo com a sua contribuição para a empresa.
Também acha que se pagam muitos impostos?
O problema dos impostos em Portugal tem muito que ver com o nosso não reconhecimento da utilidade destes. As más políticas praticadas na utilização dos dinheiros dos nossos impostos e a corrupção levam-nos a pensar que pagar impostos é um desperdício. Existem países em que os cidadãos pagam impostos sem contestação porque sabem que os mesmos são bem utilizados e que serão recompensados pelo sistema. Em minha opinião, de facto, pagam-se demasiados impostos e com valores exagerados, nomeadamente sobre os combustíveis, sobre os salários, sobre as rendas, sobre as despesas diárias (luz, água, bens alimentares… etc). Pagamos mais impostos do que boa parte dos outros países europeus. A pergunta que fica é: será que o sistema nos recompensa de acordo com os impostos que pagamos?
Temos uma máquina fiscal muito burocrática?
No meu caso, como contabilista, todos os dias tenho de trabalhar com a enorme máquina fiscal e não é fácil. Muitas vezes é difícil, outras vezes é impossível. O Estado criou um aparelho para os cidadãos e para as empresas prestarem informação, só que, quando os prazos coincidem com várias obrigações, o sistema torna-se incapaz de dar resposta e, por vezes, temos de fazer trabalho de “morcego”, ou seja, trabalhar pela noite dentro para poder cumprir prazos. Posso dizer que “a máquina” é burocrática e pouco eficiente. Muito do trabalho que as repartições de finanças faziam passou para nós e parece que ninguém se incomoda muito em dar-nos as condições necessárias para o fazermos de forma célere e eficiente.