O restaurante Tertúlia da Quinta abriu em 2005 na Quinta de Sant’Ana. Nasceu da vontade do seu proprietário, Sérgio Rodrigues, de expandir a sua pequena garrafeira, onde já servia petiscos. Estes 20 anos de atividade levaram a partilharmos um almoço com Sérgio Rodrigues e a contar histórias e desafios.
O restaurante Tertúlia da Quinta está a celebrar 20 anos. Como tem sido este percurso?
Parece que foi ontem, mas já passaram 20 anos! Foram duas décadas de muito esforço, dedicação e resiliência, sempre com o objetivo de proporcionar a melhor experiência aos nossos clientes. O sucesso desta jornada deve-se, sem dúvida, à nossa equipa extraordinária, que diariamente, se empenha por fazer mais e melhor para satisfazermos os nossos clientes, que igualmente, muito estimamos. Mais do que um restaurante, a Tertúlia da Quinta tornou-se um ponto de encontro onde a tradição e a inovação gastronómica caminham lado a lado.
Quais foram os maiores desafios ao longo destes anos?
Os desafios são diários, e talvez os mais exigentes sejam aqueles que nós próprios nos impomos. Procuramos inovar constantemente, surpreendendo os nossos clientes com propostas que valorizam o melhor da gastronomia ribatejana, com especial destaque para Almeirim, não fossemos nós a Capital da Sopa da Pedra.
Desde o início, apostámos na carne de toiro bravo, um produto que é uma mais valia, um produto emblemático do Ribatejo, que temos apostado desde a abertura e que é reconhecido pela sua alta qualidade. Paralelamente, enfrentámos desafios externos, como a crise pandémica de 2020 e 2021, que afetou arduamente o setor da restauração. Felizmente, com resiliência e determinação, conseguimos ultrapassar essas adversidades e continuamos a evoluir, sempre focados em elevar a experiência dos nossos clientes. Mas também sabemos que muitos dos agentes económicos continuam a recuperar do esforço financeiro exigido na altura, independentemente dos apoios que tiveram. Rematando o tema, os desafios são uma constante.
Como surgiu a transição da garrafeira para o restaurante?
Sempre tive uma forte veia comercial, uma herança familiar que me impulsionou a aceitar desafios. A ideia da Tertúlia nasceu, precisamente, dessa inquietação e do incentivo dos nossos clientes da garrafeira que, frequentemente, nos sugeriam servir petiscos. Estávamos no coração da Sopa da Pedra, e o conceito fez todo o sentido. Assim, em 2005, decidimos investir na construção de raiz do espaço que hoje é a Tertúlia da Quinta, criando um ambiente que valoriza a gastronomia e a identidade ribatejana.

Como define a Tertúlia?
Mais do que um restaurante, a Tertúlia é um espaço de partilha. O maior desafio ainda no papel na criação da marca. O próprio nome reflete essa essência: um local onde se juntam amigos para celebrar a gastronomia, os vinhos, a literatura e a música. Desde o início, promovemos experiências únicas, como as noites de “Notas Soltas”, onde juntamos música clássica, fado, jazz e animação artística a pratos cuidadosamente preparados pela nossa equipa. Cada jantar é pensado pela equipa para proporcionar momentos memoráveis, unindo sabores, cultura e convívio.
Se eu nunca tivesse ido à Tertúlia como é que me a apresentava?
Entrar na Tertúlia da Quinta é fazer uma viagem pelas raízes do Ribatejo. O espaço foi concebido para oferecer um ambiente acolhedor, onde cada detalhe remete para as tradições ribatejanas. Elementos arquitetónicos e decorativos contam histórias das gentes de Almeirim, preservando a sua identidade e autenticidade. E, claro, o grande destaque vai para a gastronomia: aqui, os sabores tradicionais são respeitados e elevados, com a Sopa da Pedra como estrela incontestável. Havia que dar ao cliente Tertuliano o conforto de um espaço agradável de cariz regional, onde o viajar às memórias das gentes ribatejanas e da sua riqueza desses tempos, em artefactos e outros “tesouros” que preservam a identidade de Almeirim em particular e do Ribatejo em geral.
Quais são os desafios para os próximos 20 anos?
Num contexto pessoal não consigo responder pois a minha longevidade poderá não chegar aí, mas diria que os desafios serão sempre diários. O futuro traz desafios constantes, e a nossa missão será continuar a inovar sem perder a essência. Todos os dias procuramos melhorar, seja no serviço, na oferta gastronómica ou na experiência global dos nossos clientes. Quanto ao futuro a longo prazo, ele pertence à nova geração, que certamente continuará a elevar a Tertúlia, mantendo a tradição e acrescentando novos horizontes.
De que forma a certificação da Sopa da Pedra tem ajudado a promover esta iguaria?
A certificação da Sopa da Pedra foi um marco fundamental para consolidar a notoriedade desta iguaria a nível nacional e internacional. Ela tem sido um “push up” constante que elevou esta iguaria bem almeirinense para uma notoriedade excelente. Há que dar os parabéns a todos os envolvidos na fase embrionária da certificação, que não foi fácil. Foi um processo exigente, iniciado em 2017, e que envolveu a Câmara Municipal, a Associação de Restaurantes da Sopa da Pedra de Almeirim e vários outros parceiros. Hoje, com o reconhecimento como Especialidade Tradicional Garantida (ETG) pela União Europeia, conseguimos preservar a autenticidade da receita e elevar ainda mais o nome de Almeirim. A Confraria Gastronómica de Almeirim e os meios de comunicação também têm sido peças-chave nesta valorização, contribuindo para que a nossa cidade seja, a meu ver, um dos maiores polos gastronómicos do país. Com o esforço de todos, Almeirim é para mim e é uma opinião pessoal, o maior polo gastronómico do país.
Ainda há muito a fazer pelo turismo gastronómico?! O que considera essencial? E qual tem sido o papel da Associação de Restauração de Almeirim?
Sem dúvida, concordo plenamente, há sempre margem para crescer! Tem de ser um esforço conjunto de todos os agentes económicos. O turismo gastronómico deve ser encarado de forma integrada, envolvendo não apenas a restauração, mas também setores como o vinho, os cavalos e o património cultural. Almeirim já recebe uma grande afluência de visitantes aos fins de semana, mas é essencial criar mais opções para que prolonguem a estadia. Na Associação de Restauração de Almeirim, onde faço parte da Direção, temos trabalhado para melhorar a experiência dos visitantes, seja através da organização do espaço, das condições de estacionamento ou da segurança. Além disso, defendemos a diversificação da oferta turística, promovendo visitas a quintas, museus e outros pontos de interesse, para que a experiência em Almeirim vá além da refeição.

Qual a sua opinião sobre o projeto de requalificação da zona envolvente aos restaurantes, com a retirada de carros?
O projeto nasceu através de um estudo elaborado por um arquiteto de renome com o apoio da Câmara com a colaboração da Associação, de modo a estudar alterações nos espaços dos dois parques de estacionamento contíguos à Praça de Toiros. E previa uma revitalização significativa da área envolvente à Praça de Touros. Projeto extremamente interessante A ideia era criar espaços pedonais mais atrativos e seguros, com mais áreas verdes e um espelho de água, reduzindo o trânsito automóvel na zona mais próxima dos restaurantes. Os custos de execução do mesmo são muito elevados e, segundo sei, está parado neste momento. Mas na minha opinião pessoal, podem-se fazer muitas melhorias nos espaços atualmente existentes de modo a dar mais segurança às pessoas que caminham a pé para os restaurantes. Redefinir alguns sentidos de transito e pensar em melhorar a iluminação pública desta zona. Na maior parte das vezes, não precisamos de inventar nada basta aproveitarmos algumas ideias de outras zonas no nosso país ou no estrangeiro e replicá-las cá. Esta zona da Praça de Touros deveria ser muito mais do que um sítio “onde se vai comer e depois vamos embora”. Nos pós almoço e nos pós jantar será de apostar tanto em esplanadas devidamente estruturadas com condições de segurança para os frequentadores, como em atividades culturais, tanto no interior da Praça de Touros como no exterior nos parques (festival da Sopa da Pedra é um exemplo). Apesar de ser um projeto bastante ambicioso, mas enquanto não for posto em prática dever-se-ia e com custos controlados, melhorar esta zona da Praça de Touros que é de facto, a par com a Sopa da Pedra, o nosso cartão de vista. Devemos investir em atividades culturais regulares, tanto no interior como no exterior, tirando partido da afluência de visitantes. Um exemplo de sucesso é o Festival da Sopa da Pedra, que prova que há espaço para crescer e inovar.
Sérgio Rodrigues

Filho da terra, nasceu em Almeirim e fez todo o seu percurso escolar na região. No final dos anos 70 rumou a Lisboa, onde frequentou um curso de Gestão de Empresas.
Depois de se ter licenciado, integrou os quadros de empresas com sede na capital, onde passou pelas áreas de Marketing e de Logística. Em paralelo, foi vitivinicultor nas horas livres, mantendo um envolvimento crescente numa área que aprecia em particular. De tal forma que, no final da década de 90, decidiu abrir uma loja dedicada ao vinho na sua terra, a Garrafeira Quinta de Sant’Ana.
No restaurante Tertúlia da Quinta, espaço familiar dedicado à gastronomia ribatejana que abriu mais tarde, procura mostrar, aos outros, os melhores sabores e aromas da gastronomia da sua região, o Ribatejo, num espaço onde pretende oferecer, também, um serviço simpático e eficiente aos clientes.