O cabo dos Amadores da Chamusca, Nuno Marecos, vai passar o testemunho a Diogo Marques durante o decorrer desta temporada. Essa decisão levou O ALMEIRINENSE a conversar com o forcado há mais anos no ativo: 35. Marecos nasceu a 07 de outubro de 1977 e, aos 13 anos, chegou ao Grupo de Forcados Amadores da Chamusca (GFAC) onde terá pegado mais de 80 toiros e dado mais de 1000 ajudas.
Recentemente, foi tornado público o que já se falava, vai despedir-se das arenas. O porquê desta decisão?
Entrei para o grupo de forcados amadores da chamusca aos 13 anos de idade. Este ano, faço 48 anos. Desde muito novo que sinto uma forte ligação a este grupo, escolhi este grupo pelos valores que me transmitiram e que, na altura, me fizeram todo o sentido. Mesmo com algumas lesões pelo caminho, nunca deixei de ser um forcado ativo. Penso que, na atualidade, em Portugal, sou o forcado mais antigo no ativo, há 35 anos. Sinto que a minha resiliência e capacidade de superar e resolver os grandes desafios me suportaram até hoje. Mas, como todas as bonitas histórias têm um fim, este ano será o último enquanto forcado ativo.
Que balanço faz destes 12 anos de liderança?
O balanço é positivo. Nos últimos 12 anos liderei o GFAC, tendo como base os valores que me foram incutidos desde que sou elemento deste grupo e que fui adquirindo e aprofundando ao longo dos anos. Tive como principal interesse elevar o bom nome da Chamusca e o bom nome que a nossa jaqueta importa. Tentei transmitir valores aos restantes elementos na direção da disciplina, compromisso, respeito e humildade.
E dos 35 como forcado?
Nestes 35 anos fui muito feliz. Tive o privilégio de crescer e de me tornar um Homem no Grupo de Forcados Amadores da Chamusca. Vivi, praticamente, toda a minha vida no GFAC. Privei com grandes nomes da tauromaquia em Portugal. Conheci grandes Homens que considero ídolos. Pisei praças de elevada importância para um forcado amador, quer a nível nacional, como internacional. Tive a sorte de pegar toiros em Espanha, França, Califórnia e México.
Qual a melhor pega?
No que diz respeito à melhor pega é tudo muito relativo. Tenho a noção que fiz pegas impressionantes e difíceis e, modéstia à parte, não foram poucas. Relembro uma pega dificílima a um toiro da ganadaria Ruy Gonçalves na praça de toiros da Nazaré, como também me lembro o quanto foi emocionante para mim ver a Arena d’Almeirim esgotada e receber nela uma ovação com a praça toda em pé. Mais recentemente, tive a oportunidade de integrar uma seleção nacional de forcados e de ter a sorte de pegar na maior praça de toiros do mundo, a Plaza México. Foi uma experiência memorável que transforma qualquer forcado.
Quais os momentos mais difíceis?
Os momentos mais difíceis são sempre as lesões ou as lesões dos nossos companheiros. Mas, tal como na vida fora de praça, o mais difícil é quando perdemos alguém próximo de nós.
Como idealiza a despedida?
A minha despedida será um dia agridoce. Será um dia feliz por ter a sensação de missão cumprida, mas será também uma despedida daquilo que fui toda a minha vida.
A mudança de cabo deve acontecer na Chamusca?!
Faria sentido a mudança de cabo ser na Praça da Chamusca. É a praça da nossa terra, do nosso grupo.
Gostava de ter também uma corrida, este ano, em Almeirim?
Para mim, faria todo o sentido ter uma corrida, neste ano, em Almeirim. Sou de Almeirim, tal como vários elementos do GFAC e já tivemos o prazer de pisar esta arena, tanto em treinos, como em corridas. Há uma relação muito próxima entre o GFAC e a Arena D’Almeirim. É sempre um sentimento jubiloso pisar esta arena. Recordo, com muito carinho, a corrida de março de 2024 em Almeirim, em que tive a alegria de pegar aqui um toiro. O público saudou-me com um aplauso caloroso que vou recordar no meu coração para sempre.
Que palavras e conselhos deixa a Diogo Marques?
Espero, sinceramente, que o Diogo dê continuidade ao sucesso do grupo, com espírito de renovação e de união com os restantes elementos. Estarei aqui sempre para o apoiar e guiar. Desejo-lhe muita sorte, dentro e fora das arenas.
Quantos toiros pegou nestes 35 anos?
Ao longo destes 35 anos, tive a sorte de ter sido muito utilizado por todos os Cabos que tive. Posso dizer, seguramente, que tenho perto de 80 toiros pegados (ainda não fiz as contas) e mais de 1000 ajudas dadas.
Onde foi a primeira pega? Em que praça?
Curiosamente, a minha primeira pega foi em França na localidade de Saintes-Maries-de -la-Mer. Foi um toiro com cerca de 500 quilos lidado pelo já falecido cavaleiro Gines Cartagena (Pai). Foi um dos dias mais felizes da minha vida!
Que peso tinha o touro mais pesado e qual a ganadaria ?
O toiro mais pesado que peguei tinha 720 quilos e era da Ganadaria Fernandes de Castro.
Qual o cabo que mais admirou e porquê?
Seria injusto mencionar apenas um. Todos eles me transmitiram muito, e, seguramente, levo muita coisa para a vida daquilo que foram os ensinamentos deles. Todos eles, com características distintas, me transmitiram valores que levo para a vida.