O Rancho Folclórico de Benfica do Ribatejo está a festejar os 45 anos de atividade e, no jornal O ALMEIRINENSE, passamos em revista a atividade do grupo até aos dias de hoje, com Aquilino Fidalgo, secretário da direção.
Que resumo podemos fazer destes 45 anos de história do Rancho Folclórico de Benfica do Ribatejo?
Foram, essencialmente, 45 anos de muita alegria e felicidade. E dizemos isto em primeiro porque são sentimentos que superam grandemente todas as adversidades que, naturalmente, passámos e passam outros grupos de folclore e demais associações culturais. O epoptismo dos fundadores tem que ser sempre respeitado e recordado, mas também o dos “aventureiros” que fizeram a nossa história e que tantas histórias nos deixaram e amiúde partilhamos: A digressão a Inglaterra em 1982 e várias outras em autocarro próprio, com a prata da casa, sem telemóveis e sem gps é prova disso. Autênticas aventuras hoje muito recordadas.
Quais os pontos mais altos desta longa história?
Todas a épocas, ao longo destes 45 anos, têm o seu ponto alto. Há sempre uma atuação que fica na memória, uma digressão que é sempre um ponto alto no nosso orgulho de sermos Benfiquenses, Ribatejanos e, acima de tudo, Portugueses. Já é difícil enumerar todos os festivais e países onde estivemos. Referimos alguns: Festivais Billingham, 1982 (Inglaterra), Chateau Gombert – 1983(França), Apiro – 1986 (Itália),World Folkdance Festival palma Maiorca (Festivais Mundiais de Danzas Folkloricas de Palma de Maiorca) – 1991, 1993, 2003 e 2005 (Espanha); Saga do Mandorllo in Fiore – 1996 (Agrigento – Sicília – Itália), 3rd International Culture and Art Festival of Bűyűkçekmece Istanbul – 2002 (Turquia), V International County-Wandering Festival – 2006 (Hungria), St Albans Festival – 2006 (Inglaterra). Mais recentemente estivemos várias vezes na Alemanha, França, Itália, Grécia e Espanha. A participação e os prémios granjeados nos diversos festivais internacionais (vários em Palma de Maiorca) são o reconhecimento da nossa qualidade representativa e, principalmente, da especificidade do nosso folclore reconhecido e admirado além-fonteiras muito para além das nossas comunidades emigrantes.
Há ideia de quantos elementos terão passado pelo grupo?
É um cálculo muito difícil, não nos atrevemos. Serão várias centenas certamente!
Atualmente quantos são?
Somos 55 elementos. Incluindo os corpos sociais que são constituídos somente por elementos do próprio Rancho. O mesmo em relação aos sócios, todos os sócios são os próprios elementos – Uma mais-valia!
Ainda há elementos que façam parte desde a fundação?
Sim, sim, sim! Uma grande alegria, ainda temos 2 “velhos” connosco! “Velhos” que dançam e fazem o bigode a muitos canitos. LOL. A Belmira e o Carlos, que de velhos não têm nada, são um exemplo de força de trabalho, respeito e motivação junto de todos. A Belmira é a nossa presidente da Direção e o Carlos um exímio dançador e um apaixonado da etnografia de Benfica do Ribatejo. Vários outros, que não nos atrevemos a identificar todos, sempre nos brindam com a sua presença nos vários eventos e atuações. Uma bênção!
Para assinalar esta data já fizeram várias iniciativas. Como correram?
Esta ano, a nossa postura e mote foram a bonita idade de 45 anos de existência (1979 – 2024) e, felizmente, sempre com diferenciação e entusiasmo. Há vários anos que temos realizado o nosso festival integrado nas Festas da Vila e salutar parceria com a nossa junta de Freguesia. Este ano, e por consenso com a Junta, resolvemos fazer o festival em data própria, por um lado para não esgotar todos os eventos na mesma data, e por outro, para vincar o 45º aniversário. Modéstia à parte, o festival correu muito bem e este reconhecimento nos chega pelos aplausos do público no local, dos comentários nos dias seguintes e, principalmente, pelas mensagens de reconhecimento que os grupos participantes nos endereçaram. Para além do festival, o dia do próprio aniversário, foi marcado pela evento de folclore e fados com serviço de mesa que foi um tremendo sucesso carregado de simbolismo e emoção. Antes e logo na abertura das actividades anuais ainda realizamos um encontro Avieiro a que chamámos “Entre Mar e Rio” uma vez que os grupos convidados reuniam a mesma etnografia, artes e ofícios – Todos pescadores: Benfica; Praia da Vieira e Nazaré.
O que ainda vão fazer?
Este ano está no fim, foi um ano muito intenso. Para além de todos os eventos que realizamos na freguesia, participámos com tasquinhas nas festas de Almeirim, Festival da sopa da pedra e festas de Benfica. Honramos a nossa etnografia com 22 atuações. Encerrámos o ano com oferta a todos os elementos e colaboradores de um almoço de final de época, de convívio e já com espirito de Natal no restaurante Varandas do Parque – Neste local porque, para além da exímia qualidade e excentricidade com base nos produtos locais, tem o Chefe Miguel sido um parceiro inestimável em muitos dos eventos que já realizámos.
Como olham para a aposta na cultura em Portugal e em particular na região/concelho?
Apostar na cultura e etnografia no Ribatejo é uma forma valiosa de promover o turismo, reforçar as identidades locais e preservar tradições. As autarquias do nosso concelho têm sido sempre disponíveis a apoiar o nosso grupo, tanto na sua manutenção, através do contrato programa de desenvolvimento cultural (para o qual há regras apertadas que nós temos cumprido e melhorado), como no apoio monetário e logístico nos diversos eventos. O nosso Rancho, sensibilizado e com visão holística sobre esta temática participa efectivamente naquilo que acredita e se entende como desenvolvimento da cultura local: que passa pelas recolhas etnográficas, a sua catalogação e preservação, mas também e sua divulgação e apresentação. Não esquecemos o desenvolvimento de produtos culturais como um bem que se enaltece com parcerias e sinergias envolvendo entidades oficiais e outras associações. Há que valorizar produtos típicos, como o vinho do Ribatejo, os pratos tradicionais (como a sopa da pedra e enguias) e promover oficinas de artesanato. O lazer, o ócio, a diversão e a descoberta andam quase sempre de mãos dadas e são fatores a ter em conta. O intercâmbio social com mote na cultura é fundamental para o respeito pelo próximo e pela promoção da empatia – esse sentimento tão cristão e cada vez mais negligenciado na nossa sociedade cada vez mais digital e virtual. Benfica carece de espaço museológico digno da sua história, do seu povo e das diferentes comunidades que ainda hoje são condição da sua especificidade cultural dentro do Ribatejo e até entre localidades vizinhas. A aposta no turismo etnográfico é outra vertente que desejamos ver desenvolvida na nossa freguesia: Oferecer experiências autênticas, como dias com campinos, participações em colheitas ou passeios em embarcações tradicionais. O marketing em torno do Ribatejo tem ficado muito aquém das suas potencialidades e vergonhosamente abafado pela excelência do das províncias vizinhas com excelente exemplo o Alentejo – Uma autêntica marca que vende e se afirma com provas dadas. É quase imperativo que aposte num “Festival Ribatejano”, um certame de anual, transversal a todo o Ribatejo (bairro, charneca e lezíria), multidisciplinar e que celebre, entre outros, a dança, a música, gastronomia, tradições e artes locais: Promoção de passeios de barco e atividades recreativas, destacando-se a relação do nosso grande Rio Tejo com a cultura local. Restaurar e dar visibilidade a elementos como quintas agrícolas, o toiro e os cavalos Lusitano e Sorraia, casas de avieiros (Faias e Cucus) e património edificado. Enfim, há que criar uma identidade visual e forte para o Ribatejo, que una o tradicional ao contemporâneo. Trabalhar com criadores de conteúdo para divulgar a região a nível nacional e internacional. Produzir documentários, blogs ou podcasts que contêm histórias locais e promovam a cultura ribatejana. Apostar na etnografia e cultura do Ribatejo é garantir a sobrevivência e projeção das suas tradições para o futuro, ao mesmo tempo que se dinamiza a economia local e a coesão social.
Os jovens ainda querem aprender a dançar no rancho ou preferem dançar na discoteca?
Sinceramente, parece que os jovens de hoje preferem não dançar! (risos) Aquando das restrições impostas pelo argumento da pandemia COVID19, com suspensão de todas as atividades, julgámos que o futuro do Rancho estaria periclitante e seria difícil voltar a reagrupar os elementos e muito mais difícil seria captar novos. Foi precisamente ao contrário! O grupo voltou em força, vieram bastantes jovens e crianças e hoje, felizmente, temos um grupo, não só numeroso, como bastante jovem. Jovens que, todos os dias, nos dão muitas alegrias, não só pela sua qualidade técnica como também pelo interesse e valorização da etnografia e pela forma tenaz como se dedicam às tarefas mais trabalhosas e duras inerentes às várias atividades que desenvolvemos ao longo do ano. Os nossos jovens são motivo de orgulho e confiança no futuro promissor do nosso Rancho e da nossa comunidade. E, sim, os nossos jovens adoram dançar!
Como se cativa jovens para não deixar morrer esta tradição?
Não há fórmulas mágicas e cada rancho terá as suas condicionantes e oportunidades. No nosso rancho formamos um grupo coeso onde o respeito e a tolerância andam de mãos dadas. Aos jovens damos valorização e motivação e eles aos mais velhos, respeito e exemplos a seguir, sempre com cumplicidade e sincera amizade. Nenhum problema supera a alegria de estarmos juntos. Por vezes, a quem esteja de fora, fica a dúvida, quem são os putos e quem são os velhos. Os inúmeros sucessos performativos, os aplausos e gáudio dos assistentes, a especificidade da nossa etnografia, que a comunidade Avieira é disso causa e motivo, bem como o excelente ambiente existente entre todos e corpos sociais são fator de cativação dos mais jovens. De qualquer forma, temos que reconhecer que é importante que o número de jovens seja abundante para que, entre eles, haja entrosamento e camaradagem – eles se motivam e acabam por trazer outros jovens.
Qual a relação do Rancho Folclórico de Benfica Do Ribatejo com outros ranchos do concelho?
Excelente. Desde que o atual grupo de elementos pegou nas diretrizes do RFBR se encetaram contactos para normalizar e reforçar laços com os grupos do nosso concelho. O mesmo com outras associações e também com a CMA e JFBR. Julgamos que poderíamos dar um excelente passo com a criação de uma “federação” do folclore de Almeirim: Local de partilha de sinergias, lobbing e marketing, bem como, melhoria da capacidade negocial com diversos intervenientes e agenda partilhada – sempre que não se consiga aceitar uma atuação que a mesma fosse encaminhada para os grupos do concelho, por exemplo.
Qual o desejo para 2025?
Simples. Que seja tão proveitoso e lúdico como o de 2024. Mas, vamos dar tudo por todo para ser bem melhor. Só se justifica manter o grupo para melhorar sempre e honrar cada vez mais. A família é o pilar na nossa sociedade, o nosso rancho é a nossa grande família. Bem hajam a todos.