André Manso vence prémio europeu pelo Instituto Superior Técnico

André Manso, aluno de Almeirim que estuda no Instituto Superior Técnico, conseguiu ganhar na categoria de lançamento – propulsão através de combustível sólido, para a altitude-alvo máxima de 3 km (S3), no European Rocketry Challenge (EuRoC), competição europeia de lançamento de foguetes que reúne estudantes de engenharia de várias universidades.

Promovido pela Agência Espacial Portuguesa desde 2020, o encontro decorreu no aeródromo de Ponte de Sor, montagem e exposição dos trabalhos, e no Campo Militar de Santa Margarida, em Constância, os preparativos, verificações e lançamentos.

O EuRoC juntou cerca de 600 jovens universitários, de 13 nacionalidades, que vieram a Portugal com rockets pensados, desenvolvidos e construídos por eles próprios. Apesar de 25 equipas terem sido selecionadas para a competição, o número final de concorrentes fixou-se nas 19. Dessas, apenas duas não conseguiram reunir condições para o lançamento.

“A participação deste ano, no EuRoC, foi um sucesso. Acima de tudo, ao fim de um ano de trabalho e de várias semanas de trabalho intenso, a equipa, o Rocket Experiment Division (RED) conseguiu lançar o rocket principal deste ano, o ADMASTOR, e mais que isso, em família, conseguimos ganhar na nossa categoria de lançamento – propulsão através de combustível sólido, para a altitude-alvo máxima de 3 km (S3)”, descreve após a participação na 5.ª edição do European Rocketry Challenge (EuRoC).

Depois de dois anos seguidos em segundo, o grande objetivo passava pela vitória: “Há uma ordem de objetivos que estabelecemos todos os anos. Acima de tudo, lançar, e depois, procurar ganhar. Ao fim de dois anos a nos classificarmos em segundo lugar na pontuação geral da competição (2022 e 2023), e tendo vencido o prémio, que nos voltaram a atribuir este ano, em 2022, procurámos, nesta edição, igualar ou superar os resultados anteriores. Embora ainda não tenha sido desta vez que vencemos o primeiro lugar geral da competição, estamos bastante satisfeitos com os resultados deste ano e motivados para fazer mais e melhor, no próximo ano”, confessa nesta conversa com O ALMEIRINENSE.

Quanto à preparação, André Manso confessa que “todos os anos a preparação é desafiante, seja pelas dificuldades que temos em financiar a nossa atividade, o que leva a alguns atrasos indesejados e, consequentemente, a corridas na reta final, seja pelo surgimento de problemas do foro técnico, de que não estávamos à espera. Durante a semana da competição, a nossa prioridade é sempre ter todos os sistemas e a equipa a postos para lançar, procurando resolver os problemas de última-hora o mais depressa possível.”  

Além de tudo isto, “este ano, as condições meteorológicas não foram as mais favoráveis, sendo que os primeiros dias de lançamento foram caracterizados por fraca visibilidade, chuva e vento forte, o que impossibilitou grande parte dos lançamentos. E nos últimos dias, embora já não encontrássemos estas condicionantes, a direção do vento não era favorável, o que obrigou a organização a adaptar as regras de participação, para que um grande número de equipas, que se encontrava à espera para lançar, o pudesse fazer. Passando a permitir os lançamentos apenas às equipas que aceitassem lançar sem o paraquedas principal. Este paraquedas é o principal responsável pela recuperação (aterragem) suave do protótipo, arriscando assim as equipas, a não recuperarem o seu foguete sem grandes danos, que é um dos critérios de classificação da competição”, detalha o jovem da Licenciatura em Engenharia Aeroespacial.

Mas, para chegar a este momento, passa quase um ano. “Para chegarmos ao EuRoC há um grande período de desenvolvimento e de preparação, e o trabalho começa na competição do ano anterior. Aproveitamos o contacto com as restantes equipas europeias para aprender com elas, ensinar outras, e nos inspirarmos para a conceptualização de um novo modelo. É muito interessante ouvir os participantes dos outros países, entender as suas dificuldades, e ficar a conhecer como as ultrapassam”, conta.

Depois da altura da competição, houve um curto período de descanso e voltaram a colocar mãos à obra. “O projeto começa com uma ideia, uma mudança significativa, e com um planeamento anual que nos serve de referência para o desenvolvimento. De seguida, entramos na fase de desenho e de simulações. E mais tarde, numa fase de produção e de testagem. Se tudo correr bem, retornamos novamente à competição, em outubro”, explica André.

Numa equipa tão grande, não é fácil quantificar o trabalho e dedicação que os mais de 80 membros do projeto depositam ao longo do ano. “Numa missão que é confrontada com tantos problemas e dificuldades, não é tarefa fácil manter-nos confiantes de que vai dar tudo certo no final. Mas é também o que pauta o nosso caminho e o que nos distingue dos outros. É preciso algum cuidado para não nos perdermos nos estudos. Gosto de pensar que há tempo para tudo, no entanto, a quantidade de tempo que dedicamos a cada atividade advém da prioridade que atribuímos a cada uma. E se conseguimos, ano após ano, desenvolver um foguete do calibre do ADAMASTOR, tal deve-se, fundamentalmente à prioridade depositada e aos ,sacrifícios realizados por certos membros em prol das nossas missões”, sublinha o estudante.

André chegou a dizer, numa entrevista, que gostava um dia que tivesse um projeto que chegasse ao espaço: “Sonho com o sucesso deste projeto estudantil. Encontramo-nos na vanguarda do desenvolvimento deste setor em Portugal, é interessante sonhar com o crescimento deste projeto e comparar-nos com outras reconhecidas equipas europeias, com muitos mais anos de experiência e dinheiro. Algumas destas equipas, já nem sonham com a competição, mas sim com o desenvolvimento de um foguete que chegue ao espaço. Sem dúvida que não é uma tarefa fácil, mas se eles estão cada vez mais próximos, porque não nós também? A curto prazo, ainda estamos longe, mas não devemos colocar limites ao que esta equipa, com sonho e inspiração, consiga fazer daqui a uns anos.”

O gosto de André por esta área não surgiu naturalmente. No primeiro ano de curso decidiu não se inscrever logo em atividades extracurriculares, mas no início do segundo ano decidiu envolver-se num destes projetos. “É uma prática recorrente na minha faculdade devido ao elevado número de projetos, que começam como pequenas ideias e depois vão ganhando dimensão.

Depois da decisão de me querer candidatar ao recrutamento de um projeto, veio a decisão sobre qual, dentro da oferta existente. Queria algo ambicioso e ao mesmo tempo fora do comum. O RED rapidamente se enquadrou nestes requisitos e foi a minha primeira aposta. Mais tarde, revelou-se a única, porque consegui entrar e aqui fui construindo o meu caminho.”

O projeto é constituído por cerca de 80 membros do Instituto Superior Técnico. Não só alunos de Engenharia Aeroespacial, mas também por elementos de outros cursos lecionados na faculdade, de licenciatura ou de mestrado. Só internamente, já há uma grande diversidade de conhecimentos com que cada membro contribui. “O que nos faz conseguir aprofundar certas capacidades por interagirmos com outros colegas de engenharias mais direcionadas a determinadas questões em que estamos a trabalhar”, confessa.

Sobre o futuro, André vai procurar emprego numa empresa do setor espacial. A área encontra-se em crescimento em Portugal, mas a esmagadora maioria da oferta encontra-se no exterior. “Não me poderei limitar à procura dentro da oferta nacional. Além disso, a minha área de especialização ainda se particulariza mais dentro deste setor, o que restringirá ainda mais as minhas opções, se optar por continuar a trabalhar nela.”