Almeirim e “falta de Água”

Lê-se na mais recente edição de “O Mirante” e de “O Almeirinense” que o Concelho perdeu para Pernes, segundo o Presidente da Câmara o Sr. Pedro Ribeiro, devido “…à proibição de se fazer furos a Sul do Tejo…” e à “total inoperância e incompetência de anos e anos em não olhar para o problema da água…” o projeto de construção da fábrica de cenouras bebés.

Efetivamente, a gestão da Água, bem essencial à Vida, nesta região do País nunca foi bem feita. Aliás, há que relembrar a proposta da autoria do Partido Chega!, em 2023, denominada a “Autoestrada da Água”, que previa a criação de uma Rede Nacional da água que transportaria água excedente no Norte do País para o Sul e que foi ignorado pelo Governo.

A dita proibição de abertura de novos furos em Almeirim (Portaria nº 251/79 de 30 de Maio) e a inoperância da APA (Agência Portuguesa do Ambiente) fez com que os promotores do projeto escolhessem outra localização para a construção da fábrica. No entanto, chamo a atenção para outro factor menos conhecido do Almeirinense. Perante isto pergunto se desde 1979 não se abrem novos furos em Almeirim?!

Segundo o relatório prévio da CCDR-LVT (Comissão para o Crescimento e Desenvolvimento Regional – Lisboa e Vale do Tejo), organismo que licencia projetos de construção em várias especialidades, é mencionado que o consumo previsto de água diário da unidade logística da Mercadona é de 900m³/dia e o consumo anual de 304.045m. Perante este consumo impressionante, foi necessário que as Águas do Ribatejo expandissem e reforçassem a Rede Pública de Abastecimento de Água e Saneamento da cidade, com os custos sendo divididos entre Promotor e Autarquia. Este reforço traduziu-se na instalação de condutas de abastecimento de 1000mm³, na construção de duas ETAR’S e de dois reservatórios de armazenamento, que permitam o abastecimento continuo durante 2 dias, de modo a se evitar paragem de produção.

Assim, a questão que se coloca é como é que uma unidade de logística e expedição, que nada produz, tem um consumo de água tão elevado?! De acordo com o dito documento, este consumo será para alimentação de regas, da rede de supressão de incêndios e consumo humano. Parece-me excessivo este consumo.

Tendo esta situação em mente, pergunto ao Sr. Presidente da Câmara de Almeirim se sabe qual seria o consumo previsto para a fábrica de cenouras bebés a construir em Pernes e se a mesma não poderia ser abastecida pela Rede Pública? Isto claro sem causar a rutura da mesma rede e a falta de água aos Munícipes.

É igualmente mencionado que a água das lavagens das cenouras seria usada para a prática agrícola do Concelho sendo dessa forma reaproveitada e sem desperdício. Ao contrário do que se passa com a nave da Mercadona.

Desta forma, e analisando melhor a relação benefício/custo da implantação da nave da Mercadona e da instalação da fábrica das cenouras bebés, qual seria mais proveitosa para o Concelho? Será que alguém sabe quantos postos de trabalho foram ocupados por Almeirinenses na Mercadona e não por espanhóis vindos da estrutura central da Marca? Seriam os ditos postos superiores aos 200 criados numa fase inicial do projecto agora perdido, que poderiam ascender a 1000 em fase de pleno desenvolvimento, segundo o periódico “Rede Regional”? E será o impacte ambiental e económico inferior ou superior ao da nave da Mercadona?

Se o projeto da fábrica estava a ser estudado há 8 anos como diz o Sr. Presidente da Câmara, então certamente alguém deverá saber as respostas a estas perguntas.

António Carneiro – CH Almeirim