Das Cortes… Até agora….

Naquele tempo o beijo era a moeda real nestas coisas…por detrás de um grande homem existiu uma grande mulher…um pouco asna, salvo devido respeito, mas naqueles quartos naquele tempo e conta a história que até a TVI ou a SIC nunca puderam filmar nada…

Certos sujeitos com a infinidade do tempo ao seu dispor por cá neste lugar, conceberam a ideia de procurarar através de romances antigos todos os adjectivos mais vulgarmente utilizados ou empregados para qualificar a palavra, beijo naquele Santo Palácio. E o resultado foi o seguinte:

Era frio, quente, gelado, ardente, amante, indiferente, balsâmico, flagrante, abençoado, apaixonado, regado de lágrimas, longo, breve, rápido ,demorado, estonteante, perturbador, furto, de surpresa, correspondido, delicioso, terno, piedoso, inebriante, perfumado, fingido, hipócrita, falso, cordial, distraído ,fresco como a manhã, chispando, fogo, divinal, satânico, de satisfação, agradecimento, superficial, pecador, tranquilo, profundo, celestial, execrável, puro, respeitoso, sensual, impuro, respeitoso, sensual, impuro, devorador, formoso, queimante, nervoso, húmido, saboroso, insípido ,dado com alma, ligeiro, ansioso, extremoso, fervente, doloroso, suave, doce, acariciador, refrigerante, embaraçado, eloquente, mudo, expressivo, silencioso, arrebatador, sagrado, santo, firme, cheio de confiança, febril, conjugal, paterno, fraternal, paradísiaco, infindo, mortal, roubado, inocente, agradecido, venal, lascivo, distraído e etc. Não posso esquecer de referir que estas situações só aconteciam com os lábios.(entre nós, os beiços).

Em suma a tarefa pareceu-lhes indeterminável e pelas tantas, pararam porque já não sabiam dizer mais nada porque chegaram a uma altura que quem andou a fazer esta compilação em 1906, os “beiços” naquele dia pareciam ventosas…já as companheiras desta inspiração para este trabalho dos fulanos, ficaram com tantos chupões que juraram nunca mais dar um xoxo. Sempre é bom recordar algo de um passado que, embora distante dá saudade.

Num exercício de memória, vamos recordar como era o namoro que hoje tão diferente porque a evolução do mundo, a marcha desenfreada do progresso tecnológico provocou uma revolução tão grande e tão rápida em nossos usos e costumes, que até assusta (bem esta escrivação que escrevi dá para entender que desde a escola primária tá bem neste contexto…julgo eu…só coltura. A evolução dos costumes foi generalizada.   Tudo em nossa vida mudou.

Ah! Como era romântico e gostoso o namoro antigamente. Vamos tentar recorda-lo…Inicialmente, com o olhar, depois os que se atreviam em ajudar á causa, era uma mais valia namorava-se no Jardim onde naqueles dias de Verão e onde o coreto que existia no Verão obrigava a irmos espairecer um pouco daquilo do que se chama hoje “stress”. Nas famosas ”esquinas”  que ainda são encontradas por aqui… onde o medo era se calhar o que mais complicava o encontro e onde a regateirice de alguém ir dizer aos Pais, que ela ou ele andavam desencaminhados era o prato forte… Mas o Coreto no Jardim, que saudade. As Cachopas ficavam andando pelo lado de lá, e os rapazes ficavam olhando, criando coragem para tentar a abordagem…E havia as famosas músicas, que uma “Eufrásia qualquer” dedicava a um rapaz de olhos azuis que estava de camisa branca ou de outra cor…”.

Era um namoro essencialmente casto. Talvez a influencia e porque não, nas Cortes de 1580 em Almeirim, o Cardeal D. Henrique lá deixou o recado…: – Nada de abusos ó rapaziada vindoura nos séculos seguintes…venham até Castelo Branco para me verem aqui de Pedra e cal e rijo e aqui estou… apesar de estar um pouco de pernas cortadas. Bem se ele foi colocado por lá em estátua e se ele fez alguma coisa por Almeirim, muitos terão a resposta… Na prestavas pra nada!  

Conseguir colar o rosto ao dela era algo para ser conseguido após algum tempo de conhecimento. Dançava-se sempre com uma ligeira distancia separando os corpos, mas, em havendo alguma atracção, chegava-se a um roçar de corpos, mas nada muito abusado, tanto que ela por vezes dizia…- então o que é isso? E ele um pouco comprometido lá dizia…: -É que trago a jorna da semana aqui no Bolso…: E ela logo muito do seu nariz empinado lá lhe dizia: -engraçado não é? …essa jorna do seu trabalho já aumentou três vezes seguidas, desde que andamos a balhar…!  Quanta saudade dos tempos da brilhantina … do beijo na mão… do respeito… Saudosismo?

Claro… mas… não é para se ter saudade de um tempo onde havia basicamente respeito pelas pessoas?

E com esse pensamento essencialmente saudosista, beijo respeitosamente as mãos das minhas leitoras, e dou um cordial aperto de mão aos leitores, e que todos tenhamos UM LINDO ANO…esta faz-me lembrar aquela que ainda hoje dizem na lotaria….

Mulheres boas e carros bons são sempre para as mãos dos outros!


Crónica, por Augusto Gil