“O que há de novo para este inverno?”, por Teresa Gil Martins

Com o frio a avizinhar-se é previsível um aumento da incidência das infeções respiratórias, à semelhança do que acontece todos os invernos.

Os vírus são os principais responsáveis por estas doenças e são muito diversos: Vírus Sincicial Respiratório (VSR), SARSCoV-2 (Covid-19), adenovírus, rinovírus, enterovírus e os vírus influenzae, parainfluenzae, entre outros. Eles disseminam-se diretamente através das secreções orais ou nasais expelidas pela tosse e pelos espirros ou, indiretamente, através das secreções que permanecem em superfícies contaminadas. Porque são muito contagiosos, a proximidade das pessoas em ambientes fechados e pouco arejados facilita a sua propagação, justificando a razão pela qual vários elementos do mesmo agregado familiar ou da mesma escola possam ser atingidos em simultâneo ou com poucos dias de diferença. Os sintomas mais frequentes destas doenças incluem: febre, congestão nasal, secreções nasais, espirros, rouquidão, tosse, “dores no corpo” e mal-estar. Por vezes também podem provocar náuseas, vómitos, diminuição do apetite e diarreia.

Apesar de incomodativas, estas doenças costumam ter um curso benigno e autolimitado em pessoas saudáveis, pelo que o seu tratamento principal consiste em aliviar os respetivos sintomas: tratar a febre, o mal-estar e as “dores no corpo”, descongestionar o nariz, repousar e reforçar a hidratação. A maior ingestão de líquidos promove a fluidificação das secreções, facilitando a sua expulsão através da tosse. Xaropes destinados a suprimi-la não são recomendados, porque a tosse constitui o mecanismo essencial para limpar as vias respiratórias e controlar a doença.

Embora a maioria destas situações não sejam urgentes, a facilidade de acesso aos serviços de urgência hospitalar tem condicionado uma afluência indevida e consequente sobrecarga dos mesmos, colocando em risco a vida das pessoas gravemente doentes, que igualmente aguardam por tratamento. Contudo, convém realçar que o agravamento ou persistência dos sintomas exige sempre uma avaliação, preferencialmente pelo médico assistente. As crianças pequenas, os idosos, as pessoas imunodeprimidas e as que sofrem de doenças crónicas constituem um grupo particularmente frágil, suscetível de doença grave, pelo que requerem uma vigilância mais apertada pelo respetivo médico assistente.
As regras de etiqueta respiratória, amplamente divulgadas durante a pandemia, continuam a ser a principal forma de prevenir a disseminação destas doenças. A permanência desnecessária em locais fechados e pouco arejados, bem como a exposição ao tabaco e outros fumos facilitam o seu contágio. Algumas vacinas funcionam como medidas complementares de prevenção.

O vírus da gripe varia de ano para ano, pelo que existe uma vacina diferente todos os anos. Esta só pode ser administrada a crianças com mais de 6 meses de idade e tem indicações precisas, devendo ser prescrita individualmente pelo respetivo médico assistente. A vacina da Covid-19 não está atualmente indicada nas crianças. A vacina mais recente designa-se por Nirsevimab e destina-se a prevenir a infeção pelo VSR. Foi implementada no inverno transato em Espanha e na Região Autónoma da Madeira. O sucesso dos resultados obtidos justifica a generalização da sua administração ao grupo de crianças mais vulneráveis, a nível nacional, com início em outubro de 2024.

A infeção particular pelo VSR pode afetar indivíduos de todas as idades, mas a infeção é normalmente mais grave em bebés com menos de 6 meses de idade, nos prematuros, nas crianças com doenças cardíacas, pulmonares, neuromusculares e nas imunodeprimidas. Nestes, para além do quadro usual de febre, tosse, pieira, secreções nasais e oculares, é comum serem acometidos por falta de ar, cansaço, dificuldade em comer, desidratação, prostração, assim como pausas durante a respiração (apneias) que colocam as suas vidas em risco.

Por isso, para além do respeito pelas regras de etiqueta respiratória, nas primeiras semanas de vida as crianças não devem receber visitas e dispensam beijos e abraços. Para além disso, devem ser vacinadas com a nova vacina todas as crianças nascidas entre 1 de agosto de 2024 e 31 de março de 2025, as prematuras com idade gestacional inferior a 33 semanas e 6 dias que nasceram entre 1 de janeiro e 31 de julho de 2024, bem como aquelas que são portadoras de doenças crónicas específicas e que ainda não tenham completado 24 meses até ao dia 30 de setembro de 2024.

A sua administração será feita na maternidade, logo após o nascimento, ou no Centro de Saúde, de forma gratuita, em dose única anual e durante o período previsível da sua maior incidência (entre outubro de 2024 e março de 2025), de acordo com as normas da Direção Geral de Saúde (DGS).

A outra grande inovação prende-se com o projeto “Ligue antes, salve vidas”, que se encontra numa fase inicial de implementação a nível nacional. Mediante uma triagem telefónica prévia através da linha da Saúde 24 (808 24 24 24), pretende-se orientar cada doente para o local mais adequado, assegurando o eventual atendimento das situações menos urgentes no Centro de Saúde, com hora marcada, evitando demoras e sobreposição de consultas e reservando o atendimento nos serviços de urgência para os casos urgentes e aos previamente referenciados pela Saúde 24 e pelos Centros de Saúde.

O intuito destas novas medidas visa diminuir o sofrimento das crianças e das suas famílias, o atraso no tratamento de quem corre risco de vida, o tempo de espera de quem aguarda uma observação médica não urgente, assim como o absentismo laboral dos pais e a sobreposição desnecessária de consultas. Só a compreensão, colaboração e coordenação de todos permitirá salvar mais vidas humanas e tratar melhor todos os que requerem cuidados médicos.