O auditório da Casa do Brasil/Casa Pedro Álvares Cabral, em Santarém, vai receber a Jornada Cultural ‘Santarém, a capital do gótico português?’, no próximo sábado, 28 de setembro, entre as 9h00 e as 18h00.
O encontro acontece na data em que se assinala o centenário da edição do livro ‘Três Túmulos’, da autoria de Vergílio Correia, sendo organizado pelo Fórum Ribatejo, com apoio da Divisão de Cultura, Património Cultural e Turismo, decorrendo no âmbito das Jornadas Europeias do Património.
Foram convidados alguns dos melhores especialistas nos estudos da Santarém medieval para analisarem o tema ao longo de um dia de trabalho cujos resultados serão, posteriormente, publicados em atas.
O evento começa com uma primeira comunicação da historiadora Ângela Beirante, dedicada a explicar ´A toponímia na Santarém medieva’; prossegue com Carla Varela Fernandes que vem falar da ‘Escultura gótica de Santarém no século XIV: reflexões, questões e contradições’; continua com Paulo Almeida Fernandes que apresenta ‘’Santarém é um livro de pedra’. Cenário e memória de uma cidade medieval’.
Segue-se Luís Nazaré com ‘Um caso de estudo, o túmulo de Fernão Roiz Redondo em S. Nicolau’ e, finalmente, encerrando a parte da manhã do encontro, Luís Mata que vem mostrar que ‘A minha boca não é um túmulo’: notas cripto-históricas acerca do património tumular escalabitano’.
De tarde, será tempo para ouvir a partir das 14h00, Eduardo Tavares com ‘Um acaso – uma pista sobre São João do Alporão’, cabendo o encerramento do evento ao historiador Vítor Serrão, com ‘Vergílio Correia (1888-1944) e o livro ‘Três Túmulos’ (1924)’, o tema central do evento do qual o historiador é também um dos coordenadores juntamente com Carlos Amado, Elvira Marques, Luís Mata, Luís Nazaré e Lurdes Veiga.
O programa da tarde retoma com uma visita guiada a alguns dos monumentos da cidade, como a igreja de São João de Alporão, Torre das Cabaças, igreja da Graça, igreja de Santa Maria de Marvila e aos antigos Mosteiros de Santa Clara e de São Francisco.
Um século de Santarém gótica
De realçar que esta jornada cultural decorre 100 anos depois da edição original da obra ‘Três Túmulos’, escrita por Vergílio Correia, onde surgiu pela primeira vez a designação pela qual a cidade ainda é atualmente reconhecida a nível nacional: Santarém, Capital do Gótico.
A organização do evento recorda que “o epíteto de Santarém, Capital do Gótico, atribuído a esta cidade em 1924 por parte do historiador de arte, museólogo, etnógrafo e arqueólogo Vergílio Correia (1888-1944)”, que ficou bastante impressionado com a “quantidade e diversidade de escultura tumular dos séculos XIII, XIV e XV ainda existente no património escalabitano”.
O fascínio que o património local suscitou no académico vai ser analisado e debatido no âmbito deste encontro, onde se questiona, sobretudo, se “terá razão de ser o honroso título?”. Na realidade, Santarém ainda conserva a igreja de São João de Alporão, as igrejas dos antigos mosteiros dos agostinhos da Graça e dos franciscanos de Santa Clara e de São Francisco, a igreja de Santa Cruz da Ribeira, sem esquecer, embora fora dos limites urbanos da cidade, o mosteiro de Santa Maria de Almoster. Apesar disso, ao longo dos séculos foi sendo perdido parte do património local, sobretudo devido a tragédias naturais, conflitos armados, abandono, incúria, vandalismo ou destruição.
Partindo “desta triste realidade”, nas suas visitas a Santarém, o historiador de arte e professor Vergílio Correia deu conta do que encontrou em várias obras, como o referido livro ‘Três Túmulos. Uma Arca Tumular do Museu de Santarém Sepultura de Fernão Gomes de Goes, em Oliveira do Conde Moimento do 1º Marquês de Valença, em Ourém’, editado em Lisboa pela Portugália Editora, em 1924. Neste estudo, o investigador afirma que, apesar de todas as perdas, Santarém é a capital do gótico nacional dada a riqueza da tumulária e da escultura que encontrou nas várias igrejas ainda existentes.
Muitos dos templos locais foram ainda alterados com obras realizadas nos séculos XVII e XVIII que as descaracterizaram, ao sabor de novos estilos, mas convém também relembrar “o papel nefasto dos maus restauros ‘puristas’ do Estado Novo realizados pela Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais e de que o caso mais flagrante de destruição do espírito histórico-artístico preexistente é o mosteiro de Santa Clara”, indica ainda a sinopse que acompanha o encontro que questiona se “todo este acervo é suficiente para garantir validade ao título proposto em 1924 por Vergílio Correia e aceite, sem reservas, como marca turística da nossa cidade”.