Sem dúvida… Foi assim…

Nasci antes da televisão, das vacinas contra a poliomelite, comidas congeladas, fotocopiadoras, lentes de contacto e da pilúla anticoncepcional. Não existiam os radares, cartões de crédito, raios laser, nem patins em linha nem havia ar condicionado, máquinas de lavar roupa ou secadoras, as roupas secavam ao vento.O homem não tinha chegado à Lua, gay era uma palavra inglesa que significava uma pessoa contente, alegre e divertida, hoje é homossexual. Das lésbicas nunca tinhamos ouvido falar, e os rapazes não usavam piercings.Nasci antes do computador, até aos 25 anos chamava-se aos homens de Senhor, e á mulher de Senhora ou Menina. No meu tempo a virgindade não produzia cancro.Ensinavam-nos a diferenciar o bem do mal, a ser responsáveis pelos nossos actos.Acreditavamos que a comida rápida, era o que a gente comia quando estavamos com pressa.Ter um bom relacionamento era dar-se bem com o primos e amigos, tempo compartilhado significava que a familia compartilhava férias juntos.Não se conhecia telefones sem fios e telemóveis, nunca tinhamos ouvido falar de música estereofónica, radios com FM, cassetes, cds, dvd´s, máquinas de escrever electricas, calculadoras, nem mecânicas quanto mais as portáteis. Dava-se corda aos relogios todos os dias, não havia nada digital, nem relogios luminosos, nem máquinas de som e de jogar.Não havia cafeteira electricas, microondas, nem rádios relogios despertadores, para não falar das videocassetes ou camaras de video.

As fotos não eram instantaneas nem coloridas, havia sómente a preto e branco e as revelações demoravam quase uma semana. As as cores não existiam e quando apareceu a sua revelação era muito cara e demorada. Se em algo lessemos Made in Japan, não se considerava de má qualidade. Não se tinha ouvido falar de pizza, Hut, MacDonald´s nem café instantaneo. Havia casas que se compravam coisas a 5 e a 10 tostões, os sorvetes, os bilhetes de autocarro e os refrigerantes tudo custavam 10 tostões e por vezes menos.As nossas caminhas de bebé eram pintadas com cores bonitas, em tinta à base de chumbo que nós muitas vezes lambíamos e mordíamos. Não tínhamos frascos de medicamentos com tampas à prova de crianças ou fechos nos armários e podíamos brincar com as panelas. Quando andávamos de bicicleta, não usávamos capacetes. Quando éramos pequenos viajávamos em carros sem cintos e airbags, viajar à frente era uma alegria. Bebíamos água da mangueira do jardim e não da garrafa e sabia bem. Chupávamos laranjas azedas que encontrávamos no meio das ervas e não ficámos doentes. Comíamos batata frita, pão com manteiga e bebíamos pirolitos com açúcar, mas nunca engordávamos porque estávamos sempre a brincar lá fora. Partilhávamos garrafas e copos com os amigos e nunca morremos disso.Passávamos horas a fazer carrinhos de rolamentos e depois andávamos a grande velocidade pelo monte ou estrada a abaixo, para só depois nos lembrarmos que esquecemos de montar uns travões. Depois de acabarmos num silvado e por isso aprendíamos logo a não esquecer de meter os ditos.

Saíamos de casa de manhã e brincávamos o dia todo na rua, desde que estivéssemos em casa antes de escurecer. Estávamos incontactáveis e ninguém se importava com isso. Tínhamos amigos – se os quiséssemos encontrar íamos à rua. Jogávamos ao elástico, às uvas, eixo, berlinde, pião, à malha, à semana, às escondidas e à barra e a bola até doía os pés porque não havia sapatos! Caíamos das árvores, cortávamo-nos, e até partíamos ossos mas sempre bem dispostos.Havia lutas com punhos, casqueiros b´fatadas que até viamos estrelas. Batíamos às portas de vizinhos e fugíamos e tínhamos mesmo medo de sermos apanhados.Íamos a pé para casa dos amigos. Criávamos jogos com paus e bolas. Se infringíssemos a lei era impensável os nossos pais nos safarem. Eles estavam do lado da lei. A minha geração produziu os melhores inventores e desenrascados de sempre. No meu tempo “Erva” era algo que se cortava para dar ao gado e não se fumava. Fomos a última geração que acreditou que uma senhora precisava de um marido para ter um filho…Agora ….POIS podem acreditar…ainda tenho este banco onde estou de pé em cima dele,,,,porque não era estragadão…


Crónica, por Augusto Gil