Saí cedo de casa na Amadora. Pelo caminho, ouvi o comunicado do Movimento das Forças Armadas pedindo ao pessoal de saúde para se manter atento e nos seus locais de trabalho. Tinha passado os três primeiros meses de 1974 na recruta em Mafra, já referenciado pela Pide como elemento politicamente ativo. Em outubro de 1973 fora candidato da Oposição Democrática pelo Distrito de Santarém. Os segundos três meses seriam passados no hospital da Estrela e anexos em formação médico-militar. Estava mobilizado para Angola.
O dilema entre deixar o hospital ou ir para o largo do Carmo, aonde Salgueiro Maia, a coluna militar e o povo materializavam a Revolução, acompanhou-me durante a manhã e tarde do dia 25. A consciência de médico e o apelo do MFA foram decisivos para permanecer no meu posto. Só ao fim da tarde me senti descomprometido e pronto para festejar a Liberdade que já andava no ar. Com alegria esfusiante e indescritível andei pelas ruas de Lisboa a gritar e a apitar a buzina do carro. A abraçar toda a gente.
Apesar de hoje lamentar a decisão tomada e, até, ter escrito um poema a que chamei Felicidade doce/amarga, foi o dia mais feliz da minha vida. Nesse dia, foi colocado um fim na Ditadura de Salazar e Caetano. Foi o culminar de uma luta política de 48 anos em que o Partido Comunista Português teve um papel fundamental. Nessa luta, juntaram-se muitos outros Oposicionistas ao regime. Os Capitães de Abril, com a sua ação revolucionária, deram expressão ao desejo do Povo de fim da guerra colonial, liberdade, democracia, direitos e justiça social.
José Sampaio – CDU Almeirim