Abril não é apenas uma data que se comemora de cravo vermelho ao peito, pois essa redução é a pretensão de todos aqueles que não se apaziguaram com a Revolução e que têm, ao longo destes 50 anos, tentado branquear o que foi o fascismo em Portugal.
Os tempos que vivemos são complexos, alastram os discursos do ódio, do medo, da xenofobia, formas populistas de dar voz às dificuldades reais das pessoas, pois é real a exploração e a precariedade laboral, as injustiças e as discriminações vividas e as desigualdades sociais são gritantes. O fosso, entre os que acumulam grandes riqueza e os que dificilmente pagam as rendas de uma habitação digna, é cada vez maior.
É essencial não esquecer a coragem e os motivos que levaram os Capitães de Abril e seus homens, a caminhar para Lisboa, onde uma multidão a eles se associou, para dar ao povo a voz que lhe tinha sido amordaçada.
Viver Abril é recordar a longa luta antifascista levada a cabo por muitos homens e mulheres, alguns dando a própria vida, para que fosse possível todos termos uma vida melhor e justa, sem fome e sem miséria.
A democracia e o poder local democrático nasceram de Abril, permitindo ao povo ter a sua vontade representada nos órgãos decisores, locais e nacionais. O que está por realizar não é responsabilidade de Abril, mas dos que nunca se conformaram com o que teve de mais avançado, transformador e progressista e tudo têm feito para romper com esse caminho.
Temos a responsabilidade de continuar a construir esse país que foi sonhado por tantos, onde possamos ver garantidos os direitos enquanto cidadãos, e como já dizia Zeca Afonso “O que é preciso é criar desassossego. (…) neste país, somos tão pouco corajosos que, qualquer dia, estamos reduzidos à condição de ‘homenzinhos’ e ‘mulherzinhas’. Temos é que ser gente, pá!” (Entrevista a Viriato Teles, in «Se7e», 27/11/85.)
Sónia Colaço – CDU Almeirim