Sim, morreu aquele que foi o meu pároco, que me batizou e administrou os sacramentos da iniciação cristã, que foi, desde quando nasci até ao dia em que, já adulto, deixei a minha casa, a minha aldeia e a minha paróquia para seguir o caminho que Deus me chamava, um farol … um canal de Deus. O Pe. Bento foi um instrumento que o Bom Pastor usou para fazer chegar aos meus ouvidos a Sua voz.
Foi pároco da paróquia Benfica do Ribatejo, de 1967 a 2006.
Como o conheci mais de perto? Desde tenra idade, eu participava na Eucaristia, por iniciativa própria, mesmo antes de frequentar a catequese, ia sozinho, muitas vezes sem os meus pais me acompanharem (já havia qualquer coisa em mim) … muitas vezes, o Pe. Bento apanhava-me no caminho e dava-me boleia, pois eu ia a pé… e não era perto… nos anos 80 era assim … depois, iniciei a catequese, e terminado este percurso, de vez em quando não ia à missa… não me lembro o motivo…. Havia, da parte do Pe. Bento, a preocupação de ir a minha casa inteirar-se do que se estava a passar comigo, porque não me tinha visto, e com cuidado e amizade incentivava-me a participar na vida da igreja da minha terra … era eu adolescente… Em finais da década de 90, incentivou-me a ser Ministro Extraordinário da Comunhão, tinha eu pouco mais de 20 anos. Pode parecer estranho, mas o que vou contar foi o modo que Deus usou para me atrair ainda mais ao Seu altar … o Pe. Bento, que trabalhava incansavelmente, como pároco e como professor, e tirava férias no mês de agosto … deixava a paróquia e tirava um mês inteiro de férias … e era a mim que confiava a comunidade paroquial, … em seu nome, eu assumia as celebrações da Palavra dominicais com distribuição da comunhão … já naquela época havia um caminhar em conjunto de um jovem leigo com o seu pároco (já se fazia sinodalidade)… e a nossa comunidade achava-o muito bem assim … tanto para eles parecia justo e importante que o seu pároco pudesse descansar, como era também uma alegria para eles terem as celebrações da Palavra dominicais feitas por alguém da comunidade a quem o pároco confiava a paróquia (digo isto porque os paroquianos diziam uns aos outros e chegava-me aos ouvidos o seu apreço … mal sabem eles que também são responsáveis, com o Pe. Bento, da minha vocação) … não havia missas naquele mês … mas havia a mesma vitalidade na paróquia … fruto do pastoreio do Pe.
Bento, que como “Moisés” soube formar o seu “Josué”. Tantas foram as vezes que ia ter comigo a casa e convidava-me a acompanha-lo a rezar a liturgia das horas… Certo dia, houve um engano no agendamento da celebração da Eucaristia na capela da minha aldeia (Foros de Benfica), as pessoas não apareceram, apenas eu e ele. Não hesitou em convidar-me: “Está a acontecer um momento de oração em Benfica, queres vir comigo? É muito bom, tu vais gostar…” … obviamente que aceitei. Ao chegarmos, estava a ser invocado o Espírito Santo. Foi uma noite marcante, um verdadeiro encontro com Deus. O Pe. Bento foi o canal … porque depois daquele dia, passei a frequentar aquela oração semanal e aprofundei ainda mais a minha ligação à igreja e a Jesus. A partir daquele dia, foi também o início do meu discernimento vocacional … Daquele grupo de oração surgiram novos conhecimentos … conheci a Comunidade Luz e Vida, que estava em Albergaria do Doze, e em 2005 fui viver na Comunidade, na diocese de Leiria-Fátima; soube que o Pe. Bento, na altura, ficou feliz, mas disse: “… mas ele faz falta aqui! ? … no fundo, os meus pais também sentiam isso … mas tanto o Pe. Bento como os meus pais sabiam que Deus estava a chamar-me… então, depois de um bom caminho feito com a Comunidade Luz e Vida, entrei no Seminário de Leiria e Seminário Maior de Cristo Rei dos Olivais, em Lisboa; fui ordenado diácono em 2016, na Sé Catedral de Leiria, e Sacerdote em 2018, na mesma Catedral. O Pe. Bento foi para mim um instrumento nas mãos de Deus. O seu zelo pela paróquia e pelo cuidado que sempre teve comigo servem-me ainda hoje de exemplo … que tento seguir. Não posso estar mais agradecido a Deus por ter conhecido um homem de Deus que soube apontar-me o caminho … com ele aprendi que um padre pode ser manifestação de Deus na vida de alguém, mesmo nas coisas mais simples …. O pe Bento tinha defeitos? Tinha. Eu também os tenho … mas o Pe. Bento era um homem de Deus … e eu quero continuar a seguir o seu exemplo…
Pe. “Bento”, muito obrigado, por me teres “abençoado“.
Pe. António Cardoso