Por volta de 1931/32 surgiu uma Praça de Toiros na Rua das Faias, no pátio da família Ferreira Martins. A referida praça tinha uma arena pequena, com três trincheiras, bancadas em madeira e alguns palanques privados de proprietários abastados de Almeirim. Ao fundo do pátio, existia um barracão e os curros dos toiros.
Os cavaleiros eram amadores e atuavam gratuitamente. Os toiros de raça portuguesa, eram cedidos pelas casas agrícolas, nomeadamente pela Quinta da Alorna, Prudêncio da Silva Santos e Fºs, Santiago e Irmão, da Raposa e D. João de Mascarenhas.
Nos dias dos festivais taurinos, Almeirim estava em festa; pela manhã existia a entrada dos toiros que vinham da Quinta da Alorna, entravam pelo Largo do Conde, seguiam pela Rua 5 de Outubro até à praça, na Rua das Faias. Nos cruzamentos, eram colocados carros de bois, galeras e carroças para evitar que os touros se tresmalhassem. A algazarra era enorme; atiravam-se bombas e cobrinhas, compradas na loja dos Fardilhas, na Rua do Pinhal, conseguindo-se, de vez em quando, a fuga de algum toiro, para dentro da villa que, depois seguiria para o campo, a sua crença natural.
As entradas dos toiros eram conduzidas pelos campinos das casas agrícolas que, com firmeza, seguravam o “pampilho”, realizando-se pela tarde o festival taurino.
Sem poder precisar a data, mas por volta de 1935, um violento incêndio destruiu por completo toda a estrutura, terminando, tragicamente, a Praça de Toiros de Almeirim.
Os aficionados locais não esmoreceram e, rapidamente, constituíram uma comissão constituída por Manuel Laudácias, Edmundo Gameiro e Luís Correia que pediram a colaboração a D.Luís de Margaride e a Guilherme Godinho. A generosa Quinta da Alorna cede o terreno e o desenho da “nova” Praça é efetuado por Diamantino Pina que acompanha a construção da mesma. A praça de toiros é construída em nome do Instituto de Beneficência Sopa dos Pobres, fundada a 01 de Maio de 1927.
Numa campanha para a construção, houve ofertas de tijolo, pedra, cal, cimento e areia, horas de trabalho e transportes de borla. O apoio era geral e todos queriam colaborar de uma forma ou de outra. Assim se construiu a primeira Praça de Toiros com condições de segurança. O redondel e os curros em alvenaria, bancadas em madeira, assentes sobre pilares de tijolo e, com uma lotação de 3.000 lugares.
Na corrida inaugural, em 22 de Outubro de 1938, atuaram o cavaleiro Alberto Luis Lopes e os espadas amadores João Romão, Domingos Saraiva, António Correia, Jaime Rodrigues, Joaquim Moça e Augusto Gomes Júnior. Os toiros eram da ganadaria Prudêncio da Silva Santos, de Almeirim, e as pegas a cargo do Grupo de Forcados de Almeirim, composto, entre outros, por José Bocage, Ezequiel Correia, João Come Nabos, José Cartaxeiro, José das Cabras, António Luís Correia, João Calhambeque, João Garimpa e João da Graça.
Outras corridas se efetuaram, como apresentação em Portugal de mexicano Carlos Arruza e, os espanhóis Pepe Dominguim e Panito Casado.
Realizavam-se diversos festivais taurinos, mas houve dois que ficaram famosos: o primeiro foi uma vacada a favor da União de Almeirim, em que atuaram Joaquim Marcelino, o único cavaleiro em praça e, os espadas foram Zeca Martins e Júlio Pina (“ Jagodes”). Como campinos atuaram Joaquim Gameiro e Carlos Loureiro.
O outro festival foi o “ Casamento do Sardanapo”, famoso pela sua hilariedade. Em plena praça, celebrava-se um casamento; a noiva era um rapaz e, os convidados também se encontravam na arena. Em determinado momento, soltou-se uma vaca, estabelecendo-se uma confusão enorme; uns fugindo, tentado saltar da arena, mas as saias não permitiam saltar a teia caindo de cabeça para baixo, ou eram colhidos pela vaca e levavam tareia “ que fervia”. A confusão estava instalada e, os convidados (forcados) tentavam pegar a vaca, ora de caras, ora de cernelha. Foi uma vacada que ainda hoje perdura, nos mais idosos, ao longos dos anos, com a praça completamente cheia, a rebentar pelas costuras.
Nesta praça atuaram grandes nomes da tauromaquia, mas não satisfazia os desejos da atual Comissão e os aficionados. A Comissão foi alargada e aderiram os Srs, Teodoro da Silva Santos (Prudêncio), Fernando Andrade e o Tenente Francisco Moura.
A benemérita Sociedade Agricola da Alorna Lda, cedeu mais uma área de terreno e os senhores Engenheiro Manuel Baptista e, o Arquiteto António Mendes prontificaram-se, generosamente, a oferecer o projeto para a “ Monumental”. Houve grandes dificuldades, mas tudo foi vencido e a “ Monumental” foi inaugurada a 16 de maio de 1954.
Foi um dia júbilo em Almeirim. Durante a noite, um grupo de almeirinenses, o Manuel Bárbara (“Manuel dos Cavalos”), José Bocage, o José Soares da Graça (“ Zé Polícia”), assaram no espeto um toiro com cerca de 300 quilos, tendo o mesmo sido distribuído pelo povo, com pão e vinho à distribuição.
Atualmente, já recebeu obras de requalificação e recuperação, designando-se Arena D’Almeirim.
António José Madureira