Com o início de mais um ano escolar, regressam as preocupações relacionadas com a aprendizagem.
Vivemos numa sociedade altamente competitiva, tornando lícitas as preocupações dos pais com o sucesso escolar dos seus filhos. Atingir bons resultados depende do cumprimento de alguns pilares básicos essenciais e não existem “poções mágicas” capazes de os ultrapassar.
A aprendizagem depende da curiosidade, da concentração e do esforço individual. Um comportamento ordeiro e adequado dentro da sala de aula proporcionará o ambiente propício à receção da informação. O trabalho coordenado de toda a equipa interveniente no processo colmatará as restantes necessidades.
A curiosidade pelo meio envolvente constitui a base da motivação individual. Sem que a criança/adolescente tenha a noção da aplicação prática dos conteúdos teóricos, rapidamente se desconcentrará. Compete aos professores o desenvolvimento de técnicas de ensino aliciantes em ambiente escolar, enquanto os pais devem proporcionar atividades paralelas no seio familiar capazes de estimular a curiosidade, o interesse e o espírito crítico. Para isso, a autonomia e a resolução prática de problemas diários devem iniciar-se precocemente. Com a entrada na escola a criança poderá ficar incumbida de pequenas tarefas diárias que reproduzem a respetiva matéria escolar: Por exemplo: ao comprar o pão, receber e confirmar o troco poderá replicar alguns dos problemas teóricos aprendidos na escola. A complexidade dos problemas quotidianos deverá aumentar com a idade. Por exemplo, a criança/adolescente poderá gerir a sua própria semanada/mesada, contemplando várias parcelas: despesas básicas, supérfluas, poupança e uma componente caritativa. Por outro lado, devem ser incentivadas atividades culturais diversificadas, como visitas a museus, viagens, idas ao cinema, ao teatro, etc. O recurso às novas tecnologias pode ser muito útil, possibilitando a concretização de alguns desses objetivos de forma cómoda e menos dispendiosa, sem sair do domicílio. Concomitantemente, estas atividades podem tornar-se altamente compensadoras e construtivas para toda a família, proporcionando uma aprendizagem geral e agradável para todos, enquanto reforçam o elo familiar.
O estudo e os trabalhos de casa exigem tempo e dedicação. Eles desempenham um papel fundamental na consolidação das matérias aprendidas. Sendo da responsabilidade exclusiva dos alunos também fomentam o desenvolvimento de outras competências: responsabilidade, autonomia e capacidade de autoavaliação. Sem trabalho não existe sucesso escolar. É necessário esforço e dedicação individual. A inteligência ajuda, mas não é suficiente. Por outro lado, enquanto é confrontada com a gestão do tempo disponível realizando escolhas, a criança/adolescente também aprende a lidar com a frustração. A sensação de gratificação obtida com o esforço despendido incute-lhe a noção de que a perseverança é indispensável para alcançar os objetivos pretendidos. Desta forma, também está a aprender a construir o caminho da sua própria felicidade.
Uma vez que o cérebro só consegue desempenhar uma tarefa de cada vez, as crianças/adolescentes não devem estudar com dispositivos eletrónicos na proximidade. Constituem fontes de distração fácil, promovendo a desconcentração, bem como a probabilidade de execução de erros e omissões.
Para que a criança/adolescente usufrua de todas as suas potencialidades cognitivas, deve ter dormido adequadamente na noite precedente. Os requisitos quantitativos e qualitativos de sono devem ser escrupulosamente cumpridos, respeitando o número mínimo de horas de sono adequado para cada idade e evitando o uso de todo o tipo de ecrãs uma hora antes de deitar.
Uma alimentação saudável e equilibrada é indispensável ao bom desempenho cognitivo. O pequeno-almoço deve ser adequado e realizado antes de sair de casa, para que as exigências energéticas estejam disponíveis desde o início das primeiras atividades da manhã.
Todas as crianças/adolescentes devem saber respeitar as regras e obedecer às ordens impostas, para que a escola desempenhe a sua função, que consiste em ensinar e desenvolver competências científicas. A interiorização de uma conduta individual adequada é da responsabilidade dos pais e deve ser incutida no seio familiar, num ambiente repleto de carinho e disponibilidade. O estabelecimento da ordem dentro da sala de aula é da responsabilidade do respetivo professor e das normas da escola.
Preenchidos estes critérios, existe um número reduzido de crianças com indicação para alguns fármacos específicos. Eles estão reservados para patologias como a hiperatividade e/ou incapacidade de concentração. Por terem efeitos adversos que não devem ser negligenciados, o seu uso tem critérios e deve ser muito bem ponderado.
Os adultos são responsáveis pela formação cívica e científica das crianças. Essa formação representa uma riqueza incalculável e será o maior legado que a geração vindoura herdará. Em última instância desempenhará um papel crucial na capacidade de sobrevivência da nossa espécie e do próprio planeta em que vivemos. Cada um de nós tem uma quota individual de responsabilidade nessa árdua tarefa. Pais, formadores, cuidadores de saúde física e mental, políticos responsáveis pela elaboração de leis e normas educativas devem cooperar e trabalhar de forma coordenada. Para além disso, cada adulto não deve esquecer-se de manter um comportamento exímio de cidadania, pois as crianças são muito melhores a imitar do que a obedecer.
O não cumprimento dos deveres individuais vai limitar a acessibilidade aos direitos coletivos. Sem esforço, os objetivos individuais tornam-se inalcançáveis. Sem objetivos e sem valores, a sociedade definhará progressivamente, hipotecando a qualidade de vida de todos e de cada um de nós.
Opinião, por Teresa Gil Martins
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