Boaventura Rodrigues, Presidente CIOFF Portugal, numa entrevista exclusiva ao Jornal O ALMEIRINENSE ,faz a avaliação do Festival FIFCA, que terminou no dia 25 de abril na Arena D’Almeirim.
Em termos gerais, qual a opinião sobre o Festival FIFCA? Estamos em presença de um festival que, em número de edições, será dos mais recentes no calendário nacional, até porque a sua realização se verificava de dois em dois anos. Esta foi precisamente uma das sugestões da comissão técnica do CIOFF Portugal, a realização anual e para que se entenda a importância deste facto esta é a explicação: um festival que proceda à candidatura de certificação de festival CIOFF, será obrigatoriamente “avaliado” de acordo com as regras/critérios da comissão técnica do CIOFF Portugal e da comissão mundial de festivais CIOFF, durante três edições consecutivas devendo todas elas serem positivas. Com a realização bianual se compreende que tudo a correr na perfeição, esta certificação só chegaria dentro de seis anos, sendo que após esta edição, nos foi assegurado que os Municípios parceiros já deram “luz verde” à sua realização anual e, deste modo, o objetivo a atingir poderá ocorrer dentro de três anos. Sobre a minha modesta visão ao FIFCA, devo admitir que, presencialmente, foi este ano a primeira vez que assisti às suas atividades durante um dia inteiro e na qualidade de supervisão dos parâmetros CIOFF, por este facto direi que como festival internacional como tantos outros a ocorrer no nosso país, existe aquela paixão, brio e envolvência voluntária de poder trazer representações culturais a nível mundial aos seus territórios com o apoio dos municípios, outros apoios institucionais e privados. Assisti a pontos muitos positivos, mas para realmente ser um marco com impacto no que respeita às condições da receção destas delegações, tais como, alojamento, requisitos de palcos, som e luz, qualidade artística, etc, sendo estes alguns dos critérios de avaliação dentro da nossa organização, acredito que fará o seu caminho e para tal contará com o apoio do CIOFF Portugal. Por fim, direi que um sistema de avaliação não é falível e pode ser discutível, mas em algum modelo nos devemos rever e este é o que nos pareceu mais equilibrado desde o ano da fundação do CIOFF Internacional (1970).
O que achou diferenciador neste festival?
Creio que a aposta no modelo que eu próprio defendo, de adicionar vários municípios como parceiros e deslocar os espetáculos a estas populações, só engrandece o evento como também privilegia este povo distante por vezes dos grandes centros sem a possibilidade de assistir a grandes espetáculos.
Que aspetos há a melhorar?
Em qualquer organização ou evento existe sempre uma boa margem para melhorias, o importante, como sempre tento transmitir, é existir a vontade para tal e, nesse sentido, os obstáculos desaparecem e a qualidade vai surgindo ano após ano, apesar, deste ser um processo dinâmico. Como refiro na introdução, não me posso permitir opinar sobre edições passadas que desconheço, agora sim, a partir deste momento e não havendo lugar a imprevistos, teremos 3 relatórios consecutivos que nos permitirão avaliar e sugerir algumas correções que se justifiquem. Por outro lado, com certeza que algumas formas, organizativas, logística e espetáculo serão alvo de abordagem. Estes relatórios, como se compreenderá, são sigilosos e a forma é transmitir em reuniões de trabalho entre as partes o caminho a seguir para que mais tarde se atinja o que todos perseguimos que é estar no patamar mais alto dos festivais internacionais e certificado pela sua qualidade em todas as vertentes, humana, artística, organizativa, , formativa, etc.
O FIFCA estará já entre os melhores Festivais Internacionais? Porquê?
Entendo o objetivo da questão, mas prefiro ver chegar ao seu término este processo de avaliação e, nesse sentido, será mais transparente a minha opinião, dizendo que, para avaliar corretamente e com sensatez um festival, devemos olhar a muitos fatores e até ao meio em que o mesmo se desenrola, mas também defendo desde sempre, sujeito a melhor opinião, que quem estará mais habilitado para esta avaliação será o público e os grupos participantes, todas as demais avaliações são muitas vezes unitárias e opiniões muito pessoais.
O que ganhará o Festival com a certificação CIOFF?
Questão que interliga na anterior. Poderei aqui garantir que, seguramente, existirão algumas formas de fazer acontecer a visibilidade internacional, estamos a falar de uma rede de festivais e secções nacionais CIOFF que existem em mais de 110 países, daí a razão da maior facilidade na divulgação do evento aos cinco continentes.
Mas também aumentará a exigência?
Isso sem dúvida alguma, a exigência é muito grande, as avaliações e supervisão a estes festivais é continua, não se julgue que após os três anos de avaliação e uma potencial atribuição da certificação, seja uma garantia futura o festival manter as insígnias CIOFF, estes certificados são renovados por períodos de tempo mas, existindo incumprimentos das regras que constam na carta de compromisso dos diretores dos festivais, esta certificação poderá ser revogada. Por outras palavras não será um direito adquirido.
“Foi uma edição extremamente positiva em vários níveis, o fortalecimento das equipas de trabalho e coordenação que estavam dispersas devido aos 5 anos de paragem, para mim foi o mais gratificante, sem eles, voluntários, guias , socorristas, staff e a famosa equipa dos invisíveis não existiria o FIFCA, bem como o significativo apoio dos municípios parceiros que se esforçaram para tentar cumprir as exigências de um Festival CIOFF. O CIOFF através dos elementos da sua Comissão técnica de avaliação, apenas em conversa circunstancial, deixou algumas indicações para que possamos evoluir e melhorar todos os nossos setores do Festival. A avaliação apenas será apresentada após reunião com a Comissão Técnica, após ser conhecido o seu primeiro relatório de avaliação ao Festival FIFCA. Na minha opinião, para atingirmos um patamar de excelência, muito haverá ainda para melhorar, estamos apenas a 40% do que entendo ser um Festival FIFCA CIOFF. A minha experiência e participação em Grandes Festivais Internacionais pelo mundo, bem como conhecendo os 13 grandes Festivais CIOFF que existem em Portugal, permite-me, saber que será necessário ainda mais empenho e apoio, quer físico, logístico e especialmente FINANCEIRO para termos as 3 avaliações positivas que nos permitam integrar esse clube restrito de Festival com Insígnia CIOFF”.
Ricardo Casebre