As recordações da antiga Casa do Povo ali perto da Igreja e mais tarde onde se encontra hoje no Largo dos Charcos, leva-me hoje recordar que possuíam antigas peças de museu, para Almeirinense ver feitas claro algumas pelos de cá e não só. – Ó Senhor Vermelho estou aqui a ler um RESPIGO, escrito por si dos anos 40 a falar do seu digno trabalho e afinal se viesse cá hoje, independente da política de então seria se calhar bem vindo…até porque nesta Santa terra a politica tinha como Sede, a… boa vivencia do lema Pobrete mas alegrete! Esqueci-me de mais qualquer coisa?!
Ainda recordo ver uma miniatura do Deposito da Água de que era feita não me lembro por quem bem como uma carroça. Havia uma mesa com espaço e tinha um banco corrido de sapateiro com botas antigas. Depois aparecia uma montra de moedas, relógios e máquinas registadoras do Mestre Joaquim André, até se chegar aos móveis de cozinha e de um quarto havia um pouco de peças antigas, como alguidares, panelas de esmalte etc. – Com o pormenor, neste último caso, do penico e do bidé junto à cama – fazendo lembrar a inexistência de casas de banho. E na cozinha, os armários de hoje eram substituídos por grades penduradas na parede, onde se colocavam os utensílios. Nesta recolha, não faltavam as louças e talheres, pequenas quantidades mas dava para entender, até as roupas ou trajes da altura.
Uma máquina de costura e um transístor antigo compunham o cenário da casa, para se entrar depois na parte das máquinas, ferramentas e utensílios agrícolas também em miniaturas. Desde a bilha de azeite, a medidas dos litros de vinho, o conjunto de medidas de cereais, o almude, o ancinho de eira, a joeira, o pulverizador manual, entre outros utensílios bem Almeirinenses.
No trabalho com os animais, hoje ultrapassados pelas máquinas com motor, faziam jeito noutros tempos a canga, para agarrar os cavalos, as ferraduras ou os freios. Outros objetos, devidamente identificados com o nome do doador, fazem-nos recuar no passado, como numa candeia, uma caixa de correio antiga ou uma arca, era possível até ver uma ratoeira para coelhos, ratos, a famosa rede para apanhar os pardais ou, bem como alguns brinquedos utilizados na altura como carrinhos de cana e uma nora com os Alcatruzes.
Se de facto tudo já teve história aqui em Almeirim, sobejamente, teremos que agradecer aos nossos antepassados, que depois do nosso Afonso Henriques, expulsar os Mouros destas terras, o que nos deixaram, foram sem dúvida riquezas incalculáveis. Na Agricultura onde Almeirim foi e julgo que deve continuar no seu forte investimento, nunca ninguém podia imaginar que a Videira, Oliveira, Melão, Milho, Laranjeira etc., oriundos da Asia Menor e Norte de África, deixados pelos que cá estiveram, pudessem a pouco e pouco enriquecer tantos e em paralelo endividá-los… A GANANCIA EM TUDO TEVE O SEU PROVEITO…
O amealhar, foi sempre um hábito de gerações independente de ainda hoje se ir fazendo, mas duvido que muito poucos infelizmente o consigam. Talvez dantes e vou agora por aí, o criar uns bicos de capoeira, um porquito, coelhos, um carneiro etc. Dava aquando a matança a hipótese, de se juntar dinheiro, havendo ali comer, não se gastava então, até mesmo uma pequena horta dava para amealhar algum. O governo de uma casa nos anos seguintes á 2ª Guerra, veio ainda mais empobrecer o que de miséria já existia. As famosas sardinhas para 3, um cadito de pão, azeite, umas batatitas, massas, arroz etc., adquiridas pela forma das senhas, que muitos ainda se devem lembrar, veio de alguma forma, ensinar para muitos, o poupar. Para recordar em 1936 numa das grandes cheias, foi oferecido, pão, peixe seco, farinha etc, para aqueles que tinham perdido o que a cheia levou.
Comparando as diversões de outrora e o que de supérfluo se gastava, somente o homem tinha 2 vícios: A Pinga e o tabaquito. A mulher limitava-se por vezes a comprar uns extras, tais como uma bolachitas, uns rebuçados, umas peças de ornamentação para enfeitar uma blusa ou uma saia, um lencito de assoar umas meias e pouco mais. A história antiga de casar com uma mulher alinhadeira e asseada e que soubesse fazer tudo dava de imediato um estatudo de uma real dona de casa e de poupança.
Um dos investimentos nos anos 20/50 sem dúvida foi a máquina de costura. Quem a tivesse com um pouco de habilidade, tinha o privilegio de muitas vezes e vi pela minha mãe, o virar um colarinho ou uns punhos, o reforçar uns fundilhos de umas calças, o virar umas calças ou um casaco, bainhas e mais tarde desmanchar uma peça de roupa velha e comprar tecido no Sr. Batata ou mesmo ao Sr. Filipe em frente aos táxis ou no Sr. Fulgêncio e fazer de novo, foi uma das obras milagrosas no aspeto de poupança. Mesmo a vizinhança que não dispunha de tal tecnologia a troco de algum biscate do género, havia contrapartidas em receber géneros alimentícios, uma galinha, ovos, umas choriças, batatitas, porque infelizmente nós comprávamos tudo, do sal à água como era hábito dizer!
Foi então que muitas mulheres, as que tinham tempo ou optaram por uma nova forma de vida, por exemplo, porque muitas detestavam o trabalho do Campo logo a troco de ensinar as noviças a costurar e recebendo alguns mil-réis ou escudecos, aparecem as denominadas Costureiras.
Hoje infelizmente quantas mulheres nem sabem pregar um botão?
Crónica, por Augusto Gil