Diogo Peseiro não tem tido uma carreira fácil, mas garante estar pronto para, em 2023, tirar a Alternativa como Matador de Toiros. A iniciar um novo ano, o Jornal O ALMEIRINENSE foi conhecer melhor o menino que sonhou ser como El Juli e o ano passado brilhou na terra natal.
Em 2019 toureou em Diezma, cortando quatro orelhas e um rabo; mas depois só fez mais uma novilhada; o que se passou?
Efectivamente! Não tem sido um caminho fácil. A realização de poucos espectáculos de toureio apeado em Portugal faz com que os pouco que existam, sejam realizados por muitas figuras do toureio, principalmente espanholas. Se é dificil tourear no nosso próprio país, imagine-se no estrangeiro… Onde existem milhares esperando a sua oportunidade. Em 2019, foram apenas duas as novilhadas e o resultado foi bastante positivo, 2020 apontava a um bom ano, mas a pandemia veio adiar tudo mais um pouco.
Entretanto o anos passaram, mas o Diogo continua sempre atrás do seu sonho de ser matador de toiros. Como é manter tão forte a “ilusão” ou “realidade”?
Muito amor, muita vocação, disciplina, e, sobretudo, disfrutar do caminho. Porque esse é o verdadeiro sonho, ir avançando e conquistando pequenos objectivos. Tenho muita confiança em mim, sei das minhas capacidades e dedico-me completamente ao meu sonho, assim mais cedo ou mais tarde, chegará o meu momento e espero estar preparado para o aproveitar´
Passou-lhe alguma vez pela cabeça em desistir?
Milhões de vezes. A impotência é um sentimento bastante destrutivo e o mundo desconhecido da Tauromaquia para o grande público também, muitos interesses e pouca justiça. Onde, por vezes, o talento é completamente deixado de parte. Essa é a cara mais dura do toureio, o “banquillo”, estar em casa sem tourear, a treinar diariamente e ver companheiros a triunfar e sentir por dentro que também o poderias conseguir se tivesses essa oportunidade.
Quais os maiores sacrifícios que já teve de ultrapassar?
O maior sacrifício foi mesmo deixar de ser criança. Ter que crescer muito cedo mentalmente, sair do meu país, viver sozinho, longe dos meus pais, dos amigos, alguma namorada que ficou pelo caminho. E viver a 100% para o meu sonho, treinar fisicamente e psicologicamente sem ter a certeza de quando ia tourear ou se, efetivamente, ia tourear esse ano, 365 dias de treino para duas novilhadas e uma corrida em Coruche, como aconteceu em 2019.
Física e mentalmente é uma profissão muito dura?
Sem dúvida, o facto de a vida estar em risco, faz com que amadureçamos muito. Cada dia aceitamos que é o último e para isso há que estar mentalmente forte. É duro, por vezes, não saber se voltarei a ver os meus pais e as pessoas que amo, mas a vida é mesmo assim, nenhum de nós sabe quando é o último momento. Só nos resta fazer de todos os momentos, momentos felizes e únicos!
Quem têm sido os pilares deste sonho/desafio?
Tenho que agradecer a muitas pessoas ao largo do meu caminho, ainda que seja um caminho solitário, tive e tenho grandes pilares. A minha família sem dúvida, o meu Apoderado Maurício do Vale, o meu Apoderado Andrés Andrades, no meu debut com picadores o Pedro Gonçalves, Rui Bento, Américo Manadas, José Luis Gonçalves, Julian Guerra y muitos amigos Matadores de Toros: Juan Leal, Joaquin Galdos, Juan del Alamo, Jesus Duque … É um caminho largo mas todos eles deixaram a sua marca no meu caminho.
Quem são as suas referências?“
José Tomas, pela sua filosofia, é a minha maior referência, mas a todos admiro e de todos tento aprender algo.
Em Portugal, tem tido o apoio de Maurício do Vale?
Mais que um apoio. É tão bonito encontrar pessoas de verdade, puras, de coração e ainda mais num mundo cada vez mais superficial e de interesses. Realmente sou um privilegiado por estar rodeado de pessoas com tamanha qualidade humana.
Em França, na temporada de 2022, teve novilhadas duras?
E em Espanha! Duras e sérias, Raso de Portillo, Saltillo, Escolar, Cuadri … As que “ninguém” quer mas que, para mim, é muito melhor que estar em casa a treinar, e com elas, consegui o meu sitio, triunfei, o que não é nada fácil com essas ganadarias!
Qual o balanço que faz deste ano?
Bastante positivo dentro da dureza e importância das praças a que fui. Sempre se ambiciona a mais, também houve um ou outro percalço de saúde, um por febre, outro por reação a um medicamento, mas bastante bonito. Estou orgulhoso.
A alternativa de matador de toiros é um objetivo, mas só faz sentido se o toureiro prosseguir a sua carreira em busca de posições mais destacadas…?
Efectivamente! Daí a minha luta, tentar destacar primeiro, conseguir o meu sítio e só depois, tomar a alternativa e penso que chegou o momento e 2023 será finalmente o ano da minha Alternativa.
Quer enviar alguma mensagem aos aficionados portugueses?
Que não percam a fé! Sobretudo no toureio a pé! Que existe agora toureiros bastante importantes e jovens que nos ilusionam.
Que sensações teve ao tourear em Almeirim?
Um sonho! Nessa praça toureei pela primeira vez, sem nunca ter tocado um capote dei três capotazos a uma bezerra, e agora, ver-me vestido de luces, com os amigos, família na bancada, foi realmente um sonho! Das noites que levo marcadas a fogo no coração.
Quando começou a pegar no capote, na muleta, ainda criança, pensava chegar aqui?
Para ser sincero, Não. Queria ser como o El Juli de criança mas tinha bastante noção e sabia que seria impossível tourear em Espanha e, sobretudo, em Las Ventas. Ironia do destino ou não, já toureei lá duas vezes, não foram como sonhava mas a oportunidade chegou. Por isso, não nos podemos limitar aos nossos sonhos. Que quem sabe… pode ser que se concretizem!