Joel Moedas-Miguel, Ribatejano de espírito, tem a seu cargo a gestão de algum património cultural no país mas as suas raízes paternas na Chamusca deram-lhe o mote para descobrir e promover culturalmente esta vila glorificada pela História. Além do Roteiro das Sete Igrejas do Concelho, um estudo e levantamento artístico religioso, a Patrimonium abriu ao público, no passado dia 22 de junho, uma casa senhorial do século XVIII, a Casa do Moscadim, centrada na Vila da Chamusca. Pertencente ao espólio da Casa das Rainhas, a partir de 1640, esta casa de estrutura pombalina albergaria, desde então, a elite da corte, sobretudo, é de realçar o ambiente de corte do tempo de D. Maria I aqui representado, quer pelas artes decorativas, como da azulejaria, da volumetria da casa, da estrutura arquitetónica. Dois painéis de azulejos embelezam os patamares da escadaria interior e denunciam a singular utilização do azul cobalto e amarelo em representação de figuras em azulejos dos finais do século XVIII. Neste caso, duas figuras: uma masculina e outra feminina, que nos convidam a entrar. A figura masculina, um “dandy”, na forma de vestir e na postura delicada, representa um “muscadin”, um francês do pós-revolução. É esta a origem do nome da casa. No século XIX, durante a Terceira Invasão Francesa, a casa acolheria, durante um curto período de tempo, o Marechal William Beresford, comandante do exército luso-britânico e governador de Portugal, que a tornou no seu Quartel General entre novembro de 1810 e março de 1811.
A Casa seria adquirida por um familiar de Rafael José da Cunha, grande latifundiário ribatejano, e seria oferecida em casamento à mulher do médico Carlos Pina Machado. A penúltima proprietária, Dª Nani Machado, preservou a casa, mas agora necessita de alguma intervenção e manutenção.
Com a experiência em musealização de Joel Moedas- Miguel, como no caso da intervenção no Palácio Ficalho e no Palácio de Santos (Embaixada de França), o projeto para a Casa do Moscadim ambiciona mais do que as visitas no último sábado de cada mês. Como o historiador referiu, é “preciso conhecer para valorizar”, e neste sentido “é preciso partilhar com a comunidade o património histórico e cultural”. Todo o processo – a musealização, a investigação histórica, o restauro, a reabilitação vai ser aberto ao público. Já foi assinado um protocolo com a Câmara da Chamusca e o historiador prepara já parcerias com outros organismos, como o Laboratório de Engenharia Civil, que possam ajudar a identificar, por exemplo, os materiais a utilizar no restauro. O projeto passa por uma viabilidade económica – cultural e turística – mas ela não se pode sobrepor às práticas de restauro e de reabilitação, considerou o historiador. Considera urgente ligar o património material ao imaterial. “É preciso identificar a história da casa e da vila. Temos de ir mais longe nesta matéria”. Uma tarefa onde os investigadores serão bem-vindos!