Depois de um período em que a medicina esteve na ordem do dia, O Almeirinense conta a história de uma jovem médica que se fixou na região. Mariana é um exemplo de dedicação a uma profissão desgastante. Nesta entrevista, conta que na faculdade só não gostava de assistir a partos.
Como surgiu o gosto pela medicina?
A medicina surgiu na minha vida de uma forma inesperada. Não foi a minha primeira opção e cheguei a ingressar no curso de biologia. Gostava da ciência, da biologia, da natureza. Mas o meu caminho não era por ali. E foi nessa fase que a medicina começou a fazer sentido para mim. Sempre fui uma pessoa preocupada com os outros e com vontade de ajudar. Arrisquei. Desisti da biologia, preparei-me afincadamente para os exames e consegui entrar em medicina.
Teve influências de alguém da família?
Não diretamente. Sou a primeira médica de uma família bastante grande, mas mais dedicada às engenharias. No entanto, lembro-me de o meu avô me ter incentivado a escolher medicina! Talvez me conhecesse demasiado bem e sentisse que seria feliz a cuidar dos outros.
Nunca teve receios ou medos? Nem de sangue?
De sangue nunca tive medo… não me faz qualquer impressão. Só não gostava de assistir a partos.
Teve, durante o curso, algum episódio que gostasse de partilhar com os nossos leitores?
Num curso tão longo, foram vários os momentos que me marcaram e tantos doentes que se foram cruzando no meu caminho. Houve histórias felizes, mas também momentos difíceis. Acho que não consigo selecionar um episódio, mas guardo muitas histórias comigo.
Gostou de ter estudado na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa?
Foram uns belos e longos anos. Fiz bons amigos e cresci muito.
Com que média entrou?
Entrei com 18,3.
Porque decidiu escolher Medicina Geral e Familiar?
Não é incrível e desafiante poder seguir os utentes nas várias etapas da vida? No nascimento, na infância, na velhice e até nos últimos momentos?! Esta especialidade cativou-me pela abrangência de cuidados que prestamos. É muito exigente. Exige muito de nós, mas ao mesmo tempo é muito gratificante. Somos a primeira linha na procura de cuidados médicos e os responsáveis pela referenciação às diferentes especialidades sempre que necessário.
Em breve estará em Almeirim também. Como surgiu este desafio?
Foi mais um desafio. Seja na vida ou na profissão, experiências diferentes fazem-nos crescer e querer fazer melhor. Será mais uma alternativa na prestação de cuidados de medicina geral e familiar, a nível privado.
É impossível não falarmos da Covid-19. Acha que o pior já passou?
Se estivermos a falar na mortalidade por covid19, o pior já passou, graças a uma excelente cobertura vacinal conseguida pelo trabalho extraordinário das equipas dos cuidados de saúde primários a nível nacional. No entanto, o impacto da pandemia a médio prazo começa a sentir-se agora. São muitos os doentes com patologias crónicas descompensadas que não tiveram as habituais consultas de rotina…são muitos os diagnósticos de doenças oncológicas que se fazem em fases mais avançadas, porque os rastreios ficaram ‘suspensos’. Vai demorar tempo a recuperar o elevado número de consultas que ficaram por realizar.
Alguma vez na universidade tinham falado que uma coisa destas podia acontecer?
Falámos sim, mas estávamos longe de imaginar que, algo com este impacto, pudesse acontecer atualmente.