Durante o mês de novembro, esteve patente ao público, na Galeria
de Almeirim, uma exposição de Walter Inácio – Iluminar com Arte.
Aos 42 anos de idade, Walter Inácio, apresenta a sua primeira exposição de
peças de arte “funcionais”. Falamos de candeeiros, peças únicas que mais que iluminar, conferem beleza ao ambiente. Nasceu na África do Sul mas, aos 8 anos, com o regresso dos pais, fica a viver no Entroncamento. Estudou design e, com o casamento, foi viver para Almeirim. Agora vive em Alpiarça.
Começou esta arte há dois anos, como um hobby que lhe ocupa muito tempo mas que tenta conciliar com a sua profissão de designer gráfico. Diz o pai que ganhou o jeito do avô que era carpinteiro.
Esta é uma exposição diferente do habitual porque apresenta objetos de arte mas com uma utilidade.
São peças únicas, peças de autor, que eu idealizo para vários tipos de ambiente e que até podem ser disponibilizadas ao gosto da pessoa.
São candeeiros que podem ser usados num espaço de habitação ou em espaços comerciais.
Que materiais são esses que usa?
A base de trabalho, e a que me dá muito gozo de mexer, é a madeira! É um
material que para além de me transmitir muitas vibrações, muita vida, também me dá formas sem limite, é uma questão de imaginação. Uso vários
tipos de lâmpadas, embora eu, neste momento, esteja a apostar muito numa
luz led, uma luz mais limpa, uma luz ambiente, uma luz mais clara. Além da
madeira, junto outros materiais, a cortiça também, tudo para que as peças
sejam o natural possível mais amigas do ambiente!
Quanto tempo levou a fazer estes candeeiros?
O que está ali é produto de um ano. Mas comecei há cerca de 2 anos. Surgiu um pouco do nada, isto é, comecei a trabalhar formas e ideias a partir de conceitos que depois concretizo. Em casa, comecei a fazer umas coisas em madeira, aquela bricolage que todos fazemos para o quintal, umas prateleiras … E comecei a pensar “ah, espera aí! Se calhar eu posso
fazer da bricolage uma coisa diferente!”
Desenvolvi a ideia, precisei de algumas peças no início, umas resultaram, outras não. Eu vejo a luz como uma luz natural, luz artificial como uma das maiores que nós temos no nosso mundo, aliás, a luz ilumina tudo, literalmente. Para concretizar algumas ideias, fiz alguns esboços, algumas tentativas para chegar a este momento. Agora tenho ali algumas peças que, se calhar, há algum tempo atrás era complicado de concretizar. São peças que demoram uma ou duas semanas a fazer, umas levam mais
outras menos tempo, dependendo do tempo de secagem.
E o processo de criação? A peça surge à primeira?
O segredo consiste em conseguir, através de umas ideias soltas, juntá-las e
criar algo que não faça logo muito sentido mas, ao alterar um pormenor, nascem peças de “outras peças” e são diferentes e únicas, além de úteis. São peças que têm outra alma, sem ser de produção maciça. É um bocadinho de mim que está ali exposto, e agora espero que as pessoas desfrutem das peças!
Podem ser encomendadas?
O objetivo principal é mostrar o meu trabalho, e dar-me a conhecer. As peças estão ali à venda e têm um preço marcado, como é obvio. Eu sei que hoje em dia há muitas pessoas que gostam de comprar igual ao que os outros têm, mas isto é único. Eu posso seguir a ideia de um cliente e depois adaptá-la a algo que resulte. É preciso ter uma leitura do que o cliente deseja. Tento sempre que o cliente fique satisfeito, mas também que eu fique satisfeito.
Gostava de ter uma loja?
Tenho no meu quintal, um atelier onde eu faço as peças. Obviamente que
eu gostava de um dia ter um espaço que abrangesse uma área destinada ao
público. Agradeço à Câmara Municipal de Almeirim por esta hipótese de poder expor as minhas peças.
Com esta exposição, quais as suas expetativas?
Isto é para mim como se fosse o ponto zero do que vem aí. Estou com um
feeling que virão coisas boas. As pessoas estão um pouco fartas do que é
repetido, do que é feito em série. Acho que precisamos de coisas novas, originais, diferentes e é por aí que eu quero ir!
Há mais pessoas a trabalhar nesta área, mas eu tento mostrar que posso
ser diferente e melhor. Mantendo-me na iluminação, vou é apostar noutras
tendências também e noutros materiais que vou juntando à madeira e que
irão conferir outras cores, outros tons, outra vida diferente! É outro tipo de trabalho.
Nós todos os dias aprendemos uma coisa nova e evoluímos sempre. Às
vezes espantamo-nos muito com o que fazemos. Há peças que não consegui
ver como iam ficar mas, depois de a fazer, aquela sensação do real, de texturas, mostra-me que há sempre novas maneiras de abordar um assunto. Eu tenho um defeito que é o ser perfeccionista. E eu sou muito chato, mas
é comigo mesmo, porque tento fazer as peças com a máxima atenção e isso
exige muita dedicação. O que eu tento fazer, é superar-me a mim, mas não é
fácil! E é algo que me dá imenso gozo de fazer, não me cansa, nem me traz dissabores; é sempre feito com prazer.
Então qual era o seu desejo para 2021?
Olhe, gostava de expor, por exemplo, em Santarém. Apesar desta altura complicada em que vivemos, a vida continua e temos de nos adaptar à situação.
Gostava que as pessoas me contactassem para que eu possa fazer este meu
trabalho e evoluir. Crescer mais, fazer coisas cada vez mais originais, tendo
sempre patente o conceito de utilidade.
As pessoas querem algo que seja útil e não algo que seja só giro. A estética é
necessária, mas é necessário que seja algo que funcione no dia-a-dia.