A experiência do tempo da pandemia do Covid-19 não foi fácil para a maioria das pessoas e a própria DGS lançou várias recomendações para a prevenção de situações de ansiedade e depressão. Na gestação, no entanto, os efeitos destes problemas podem ter impactos ainda desconhecidos. Conheça as opiniões dos especialistas que acompanham mulheres grávidas.

A situação gerada pelo Covid-19 em todo o mundo, incluindo o nosso país, tem manifestações claras na vida das pessoas.
Imposições feitas com a aplicação do Estado de Emergência ou a recomendação para o isolamento voluntário e o afastamento social, a par com o fecho de inúmeros espaços comerciais e atividades sociais, fez com que muito se alterasse nos dias e nas vidas de todas, criando impactos severos a nível físico, mental e económico.
Durante este tempo, muitas pessoas procuraram seguir as recomendações da DGS para a manutenção da sua saúde mental, criando formas de comunicação digital para se manterem acompanhadas ou preenchendo com atividades mais aprazíveis os seus dias.
Além disso, muitas foram também as pessoas a aproveitar as linhas de apoio à depressão ou os serviços de profissionais da área da Psicologia e Psiquiatria que disponibilizaram este tipo de consulta online.
O online foi, na verdade, o espaço principal para a realização de todas as atividades desde Março de 2020. Aqui, muitas pessoas procuraram ideias de negócio em casa e integraram conversas e eventos sobre os mais variados temas.
Um dos grupos que foi fortemente afetado pelo Covid-19, no entanto, foi o das gestantes. Nesta fase de grande incerteza, as mulheres grávidas viram emergir dúvidas intensas sobre como poderiam estar seguras, quais as possibilidades de que a doença as atingisse ou ao bebé e também se seria possível que se desse a transmissão da mãe ao feto. No começo, pouco se sabia para responder a estas questões, embora situações recentemente noticiadas em Portugal apontem para a possibilidade de transmissão e até
para o potencial de morte fetal devido a infeção por Coronavírus.
Somam-se a estas questões muitas outras e também alterações significativas e impactantes na própria experiência da grávida que, além de necessitar de ter cuidados extra, se vê ainda privada de algumas consultas durante o isolamento e deixa de poder, por exemplo, contar com a presença do pai durante o parto.
Os especialistas consideraram o grande impacto que tudo isto pode ter na gestante e deram, até, algumas recomendações para evitar que o impacto psicológico da pandemia seja tão intenso. Conheça estas recomendações.

Covid-19: qual o impacto efetivo na gravidez
O Centro de Estudos do Bebé e da Criança do Hospital Dona Estefânia foi responsável pela realização de uma pesquisa sobre a experiência gestacional e os efeitos negativos da pandemia na gestação.
Os números apresentados por este estudo revelaram que pelo menos 80% das mulheres que integravam a amostra sentiram que o Coronavírus afetou a gravidez de forma negativa.
Os especialistas concluíram ainda, neste estudo, que a grande maioria das gestantes sentiu principalmente o impacto psicológico, tendo havido um aumento significativo de sensações como o stress e a ansiedade e também um aumento estatístico no número de gestantes a sofrer de depressão na gravidez.
A maior preocupação dos especialistas no que diz respeito aos efeitos psicológicos do Covid-19 prende-se com os efeitos que os níveis de stress durante a gravidez possam ter no desenvolvimento da criança a curto, médio e longo prazo.
Segundo o inquérito realizado neste estudo e onde foram consideradas 1750 gestantes, existiu um aumento significativo na suscetibilidade para desenvolver problemas psicológicos ou psiquiátricos em tempos de pandemia, com mais de 80% das mulheres a asseverar que sentem os impactos negativos da situação e 32% a relatar alterações no seu plano de consultas e exames de rotina.

Recomendações deixadas pelos especialistas
Os números obtidos por este estudo fizeram com que os profissionais de saúde manifestassem alguma preocupação sobre a saúde mental das gestantes e a saúde futura do feto.
Assim, os especialistas lançaram algumas recomendações para garantir uma maior segurança das mulheres grávidas ao longo da sua gestação, sendo que estas recomendações visam, principalmente, as mulheres que se encontram no primeiro trimestre de gestação.
Ainda que o vírus não seja, ainda, totalmente conhecido, as recomendações
especializadas concluem, com base na literatura clínica que existe até ao presente, que os três primeiros meses da gravidez são os mais críticos e aqueles nos quais a infeção por Covid-19 poderá ter efeitos mais graves, recomendando por isso que a gestante tenha cuidados redobrados, nomeadamente quanto à higienização das mãos e ao contacto social.
A recomendação é também para que as gestantes procurem ajuda especializada caso sintam aumentar os seus níveis de ansiedade e stress, para tentar evitar problemas depressivos nesta fase das suas vidas.
O desconhecimento dos efeitos do vírus no bebé faz com que a prevenção do contágio continue a ser, para estes especialistas, o ponto mais importante.

Marina Veloso