Teleescola: “Fui apanhado de surpresa”

Mário, que balanço faz da experiência de participar na teleescola?

O balanço que faço sobre o projeto é bastante positivo. Creio que Portugal foi um dos países que melhor respondeu à pandemia a nível da educação. Não podemos esquecer que o projeto #EstudoEmCasa são blocos de aprendizagem para chegar aos alunos menos favorecidos e que servem para ser explorados pelos professorem no Ensino à distância. O ensino bem como todas as áreas da sociedade passou por um avanço tecnológico fantástico, já diz o ditado popular, “a necessidade aguça o engenho”. Aproveito a oportunidade para deixar os meus parabéns a todos envolvidos neste projeto pelo seu empenho e altruísmo, por se exporem e saírem da sua zona de conforto independentemente de saberem o que os esperava.

Foi apanhado de surpresa?

Sem dúvida que fui apanhado de surpresa. Ainda me lembro da reunião geral de professores na plataforma zoom em que o diretor do meu agrupamento nos informou do desafio colocado à escola no sentido de dinamizarmos na televisão o 3º/4º anos e 9º ano. Hoje a pensar mais ponderadamente não é algo que me surpreenda este convite, considerando que o Agrupamento de Escolas Fernando Casimiro Pereira da Silva em Rio Maior foi uma das Escolas Piloto de Inovação Pedagógica, é uma escola que tem criado vários espaços de inovação pedagógica como o FabLab, MediaLab, CookingLab, 3 ActivLab onde procuramos proporcionar aos alunos de experiências de aprendizagem bastante significativas e recebe anualmente centenas de professores para conhecerem estes espaços pedagógicos e as metodologias de ensino.

Qual foi a primeira reação quando lhe disseram que gostavam que participasse neste projeto?

A minha reação como a de qualquer colega foi um misto de sentimentos, de receio pela exposição como já disse, de alguma pena por a minha escola não ter sido contemplada com a dinamização de Educação Musical que é a minha área e de orgulho pelo privilégio deste desafio.

Em tão pouco tempo fez-se um milagre?

Sim, sem dúvida! É preciso considerar que não existia referência para nos orientarmos na produção dos conteúdos, tivemos de criar o conceito de raiz em conjunto com as equipa da Direção Geral de Educação e se questionar qualquer dos colegas envolvidos no projeto irão todos afirmar o mesmo. Só para ter uma ideia, recebemos o desafio e em 15 dias estamos a produzir conteúdos para as aulas e a gravar nos estúdios da RTP a meio de uma crise pandémica.

O que acha que funcionou menos bem?

Não posso dizer que tenha corrido nada menos bem, com o timing que as quatro escolas tiveram para se adaptar só posso dizer que se superaram todas as expetativas.

Os professores conseguiram mostrar grande à vontade com as camaras?

Como é evidente! Os primeiros colegas a gravar foram os pioneiros, que ajudaram os restantes a superar todos os receios. A equipa da Fremantle foi fantástica, todos os elementos colocaram os professores à vontade, assim que chegávamos ao estúdio pela primeira vez a produtora do programa dava as indicações aos professores dissipando assimalguns dos medos e todas as questões técnicas para a realização das gravações, bem como a atitude a ter com o objetivo de dissipar toda a estranheza do momento que estamos a passar. Na minha experiência pessoal a primeira aula gravada é a mais difícil, porque só quem desempenhou este papel é que tem a noção do stress e pressão de estar em frente às camaras e de poder falhar de algum modo pelo nervosismo. As aula eram gravadas sem pausa e sem teleponto, com um único take, creio que os professores fizeram um trabalho fabuloso. Eu inicialmente estava envolvido no projeto com a produção de conteúdos na escola para as diferentes áreas, desde vídeos, áudios e powerpoints no MediaLab em Rio Maior e quando a colega Cláudia Santos pede para ubstituir a colega Margarida Ferreira nas aulas de Estudo do Meio 3/4 anos por motivos de saúde, assumi o desafio e posso dizer que após gravar 5 aulas o sentimento é de missão cumprida. Posso afirmar que durante estes dois meses de gravações, o estúdio do Preço Certo foi a casa destas pessoas, fizemos amizades fantásticas com toda a equipa que nos acolheu como uma família, todos eles pessoas fantásticas um grande bem haja para todos eles.

Acredita que isto mudou a opinião sobre os professores?

Eu creio que sim, não quero referir isto em modo de critica mas sim de aprendizagem, vários pais faziam criticas ao trabalho dos professores e quando se viram na posição de educadores/formadores dos filhos encontraram as dificuldades com que nos deparamos diariamente. Será interessante ponderar que os pais apenas tinham um ou dois garotos para acompanhar, em sala de aula são entre 20 e 30 crianças. Na comunicação social e nas redes sociais pelo que me apercebo o feedback bastante positivo e o reconhecimento público é notório e as mensagens que recebemos é de gratidão, mas para esclarecer, não estamos de férias… agora seguem as avaliações e a preparação do próximo ano letivo.

Os docentes trabalharam ainda mais?

Os docentes trabalharam de modo exaustivo para chegar aos alunos com todas as barreiras existentes! Nem todos os alunos tinham os meios tecnológicos para estarem em contato com os docentes e teve de se arranjar estratégias e meios de chegar até eles, para isso produzir materiais diversificados para alcançar todos os alunos com maior ou menor eficácia com a colaboração de diversas entidades que os entregavam em casa. Agora com toda esta situação deixaram de existir horários, fins de semana e feriados, emails a toda a hora, contatos pelo Whatsapp, reuniões Zoom, sessões síncrona e assíncronas, disponíveis a toda a hora e muitas horas de trabalho que não se conseguem contabilizar.

Teme que para o ano se volta a este modelo?

Temo que sim, mas sinceramente espero que não. Professores, alunos e famílias estão desejosos do regresso à escola. O ministério da educação já lançou a data do início do ano letivo, resta agora aguardar pelo desenvolvimento da pandemia para saber como se vai processar. Há que respeitar as regras de segurança para que possamos viver com a pandemia e possamos ter a normalidade possível até que haja uma vacina e um tratamento eficaz.