Há uns meses escrevi aqui que o nosso regime democrático, apesar de
consolidado após quase meio século de existência, corre o sério risco de definhamento. Risco esse que a classe política não tem conseguido reduzir por franca inabilidade da sua parte e por, noutras vezes, estar na origem desse desgaste. A designação do ex-Ministro das Finanças, Mário Centeno, para o cargo de Governador do Banco de Portugal (BdP) é mais um exemplo de como alguns políticos nacionais, neste caso o governo do Partido Socialista, estão na génese da degradação do nosso regime. Os defensores desta designação afirmam que não há nada na lei que o proíba. É verdade! E que, no passado, houve ministros das finanças a transitarem directamente do governo para o BdP. O Presidente da República até disse que no Estado Novo isto também aconteceu. Como se isso fosse um bom exemplo… Não sendo ilegal, será que a ida de Mário Centeno para Governador do BdP é eticamente irreprovável? Até porque, como afirmou Alberto Martins (ex-líder parlamentar do PS e ex-Ministro da Justiça), “a ética da República é mais do que a lei”. Com que isenção e imparcialidade o Mário Centeno governador irá analisar a actuação do Mário Centeno ministro, nomeadamente nos processos de venda e de injecção de capital na banca? E quando o BdP tiver de se pronunciar sobre a evolução macroeconómica do país, que Mário Centeno prevalecerá: o ministro ou o governador? Estas e outras questões, que podem e devem ser levantadas, seriam evitáveis se o governo e o PS não tivessem cedido, uma vez mais, à tentação de aumentar a sua influência e de controlar as instituições. A saúde da nossa Democracia agradeceria!
Humberto Neves
PSD Almeirim