Estes são os tempos mais perigosos desta pandemia que retraiu o mundo tal como o conhecemos até aqui. De repente, da “aldeia global” em que nos transformámos, passámos a ter de viver dentro dos limites das nossas comunidades, com muitas preocupações, é certo, mas também com mais disponibilidade para os que nos estão mais próximos, porque percebemos que só salvando a nossa aldeia poderemos salvar a aldeia de todos.
No início da pandemia entre nós, o comportamento exemplar dos portugueses pôs em realce o nosso humanismo e civismo, mas também se deveu ao medo provocado pelas notícias e imagens vindas de outros países. Agora, nesta fase de desconfinamento – indutora da perceção errada de que, afinal, não havia razão para tanto receio – serão verdadeiramente postas à prova a responsabilidade, a solidariedade e a civilidade de um povo. Porque esta é uma luta de todos, mas onde cada um é tão importante que basta a quebra de uma das partes para pôr em perigo todo
o conjunto. Anteriores pandemias e epidemias foram, por desconhecimento e na maioria dos casos, encaradas como fatalidades ou castigo das divindades.
Sabemos hoje que se deveu ao comportamento humano o seu surgimento e propagação. Este novo coronavírus é, também no essencial, fruto de uma sociedade descontrolada, que fez do consumismo o seu paradigma e da falta de respeito pela natureza a norma.
Só com uma nova consciência de saúde global única – que junte, por igual, seres humanos, fauna e ecossistemas – seremos verdadeiramente responsáveis. É urgente.
Por Gustavo Costa